Tânatos à espreita

Trata-se de um vírus, um impulso destrutivo e irremovível, desde sempre inoculado na mente da nossa espécie. Então, o que estamos vendo, o que sempre temos visto ao longo dos séculos não é uma questão política, nem econômica; é a manifestação da essência da natureza humana e, portanto, sua explicação só pode ser encontrada na Filosofia.

Freud, que não foi um filósofo de título, mas teve suas percepções fundamentais enraizadas na abstração mais profunda, descreveu a eterna luta entre Tânatos e Eros. E é tal impulso destrutivo que está na matriz, por exemplo, do capitalismo, o mais perfeito sistema de dominação já inventado, responsável tanto pela exploração das pessoas, através da mais-valia identificada por Marx, quanto dos recursos do planeta, como apontam os movimentos ambientalistas.

A questão — onde Tânatos impera — é que o ser humano existe para possuir, consumir e gestar semelhantes que realimentam o processo. O simples discurso em prol do amor, da fraternidade, da harmonia — que está na base das religiões — é insuficiente para reverter, sequer diminuir o passo dado em nosso início. Para romper este ciclo é preciso, primeiro, o completo esclarecimento das pessoas. Isto só se consegue com educação; a mais ampla, urgente e antidogmática educação.

As pessoas, todas as pessoas que habitam o planeta, sem exceções, precisam saber que não há culpados a apontar; que não há pecados a imputar; que não há penas a cumprir. O que há é a responsabilidade de cada um para consigo e, por consequência, em favor do conjunto de seus semelhantes. Este é o dever que sempre houve, sempre esteve presente, sempre foi necessário, e cuja prática não traz méritos nem é digna de elogios. Até porque Tânatos está sempre à espreita das nossas fraquezas.

Texto produzido em 21/10/2013