A tarefa que se impõe

No livro em processo Do que se fazem as salsichas, aponto a educação emancipadora como a única saída para a humanidade. A tese não é minha e, na verdade, trata-se de uma constatação há muito tempo feita por muitas pessoas, todas preocupadas, a seu tempo, com os rumos da civilização e a nossa sobrevivência como espécie.

Não tenho ilusões de que a educação formal, essa que é regulada pelo Estado (tanto a pública quanto a privada), seja capaz, sozinha, de tal tarefa. Da forma como a sociedade planetária se organizou, em torno de um Contrato Social que, na melhor das hipóteses — qual seja, o sistema democrático — delega aos entes institucionais Executivo, Legislativo e Judiciário o poder de gerir a vida dos cidadãos, sob um Contrato Social como esse, repito, não temos salvação.

Como tantos sábios há tempos previam, esse sistema não se sustenta e hoje está evidentemente arruinado. Opera como um simulacro da realidade. Apresenta-se como verdadeiro, mas atua com falsidade e cinismo. Não executa em favor do interesse geral. Não legisla em favor do bem-estar de todos os cidadãos. Não aplica a lei com isenção e justiça. Está inteiramente corrompido. É um embuste liderado por crápulas engravatados. Uma farsa.
    
O fato é que, desde sempre, o modelo educacional institucionalizado é um sistema de cartas marcadas — leia o texto Pior do que a falta de educação é um educação de merda —, onde o que prevalece é a formação utilitarista, destinada ao fornecimento da mão-de-obra adestrada e ao desenvolvimento de talentos monitorados demandados pelos donos da riqueza do mundo. Esses mesmos que ao longo dos séculos corromperam o Contrato Social.

Não será essa educação utilitarista que mudará o destino do homem, muito menos a que poderá salvar nossa espécie da catástrofe anunciada e a caminho. A educação que importa nunca será ministrada sob o patrocínio ou a regulação do Estado. Isto porque, simplesmente, tal educação se destina a formar indivíduos emancipados, conscientes de seu papel na História, indivíduos esses que, assim sendo, apartam-se de qualquer superestrutura. Tais indivíduos não se submetem ao Estado, mas o Estado, como provedor de serviços, é que a eles deve se submeter.

Hoje se diz que é assim, que os Poderes do Estado (Executivo, Legislativo, Judiciário) estariam a serviço dos cidadãos. Na realidade, ocorre exatamente o oposto. Em nome de uma mentirosa defesa do interesse da maioria se produz toda sorte de violência contra aqueles que optam pela independência intelectual.

O que se passa no Brasil dos nossos dias é um exemplo pornográfico dessa corrupção argumentativa, em que se declara uma coisa e se pratica o seu inverso, num processo cínico de manipulação massiva e metódica de pessoas imbecilizadas. Tudo legitimado com o manto tenebroso de uma justiça dominada pelo dinheiro e pelo medo.

Se não será pela ação do Estado, como se realizará a educação emancipadora, afinal?

A resposta é tão antiga quanto a existência de nossa espécie sobre a Terra: cabe àqueles que já se emanciparam ensinar os caminhos da emancipação para aqueles que lhes são próximos.
 
De certa forma isso já ocorre e sempre ocorreu. Mas agora, diante da premência deste tempo corrompido que se instalou no mundo, é imperativo que a educação emancipadora passe a ser disseminada com método e persistência, pois a vida em nosso planeta está, mais do que nunca, dependente da ação de homens livres.

Texto produzido em 25/11/2018