Quem são esses homens?

Sou jornalista há mais de três décadas. Quando ingressei nessa profissão no início dos anos 1970 tinha, como tantos da minha geração —  e não só no jornalismo —, o sonho e o ímpeto de um dia mudar o mundo, fazendo-o mais justo, mais claro, mais sincero, mais humano. Era um tempo difícil, de plena ditadura militar. Um ambiente onde se falava pouco, desconfiava-se de quem de repente insistia em se fazer seu amigo; onde o que nos restava, enfim, era a contracultura, em especial a música que se fazia lá fora e, depois, aqui dentro também. E ainda bem que nos restava isso...

Ouvia-se falar de José Dirceu. Via-se sua imagem imponente, jovem, afirmativa comandando as massas estudantis da época, extremamente politizadas, uma verdadeira promessa de explosão criativa para um futuro que não veio, um patrimônio humano ao qual nenhum país que se prezasse tinha o direito de abrir mão, interromper, como fez o Brasil e sua execrável ditadura. E viu-se, depois, a foto sombria de José Dirceu e seus companheiros de luta na pista de um aeroporto, antes do exílio.

Em algum momento, passou-se a ouvir falar também de José Genoíno, o nordestino que combatia no meio da selva amazônica, a Amazônia onde eu passara minha infância e começo da adolescência; o lugar que deixara exatamente em março de 1963, um ano antes de tudo no Brasil mudar para pior.

Hoje, novembro de 2013, vejo Genoíno e Dirceu presos, com seus braços erguidos, imponentes, afirmativos, cientes de que partem para mais uma missão histórica, dentre as tantas que não necessariamente escolheram mas foram levados a abraçar. Vejo isso e me pergunto: quem são esses homens tão supremos que condenaram Dirceu e Genoíno? Com que autoridade assim agem?

Não falo do poder a eles concedido por meio da indicação burocrática de um presidente da República. Falo do tamanho que, intimamente, cada homem (e mulher) sabe possuir. Que estatura possuem esses e essas que condenaram e mandaram prender dois dos heróis recentes da História brasileira, construtores desta mesma democracia da qual se valem seus algozes?

Onde estavam Fux, Barbosa, Mendes, Marco Aurélio, por exemplo, quando nós, os jovens daquele tempo, fomos calados?

Texto produzido em 16/11/2013