A tranquilidade de Lula

Não tenho procuração do homem, nunca estive com ele, não sou vidente nem psicólogo, mas tenho a impressão de que Luiz Inácio Lula da Silva está hoje tão tranquilo como sempre esteve, apesar dos tormentos a que (abertamente, sob a vista de todos) tem sido submetido progressivamente desde 2003, quando, para a surpresa do multissecular sistema de poder que nos (des)governa, tornou-se Presidente da República.

Já abordei um pouco desse tema em outras postagens, mas sempre vale repisar o assunto, para não perdemos a dimensão do momento que estamos vivendo (aqui e no mundo, pois nunca os interesses econômicos estiveram tão globalmente interligados como agora).

Lula, há tempos, deu um xeque-mate nessa corja (de criminosos engravatadas) que comanda as instituições brasileiras, a serviço de interesses externos e (como troco) de seus próprios bolsos (haja vista os lucros fantásticos dos bancos nacionais, apesar da recessão produzida pelos golpistas, e os ganhos imorais de juízes e procuradores, apesar do esvaziamento dos cofres dos estados e da União).

É preciso entender que quem está ganhando mesmo, e nunca deixou de ganhar, são os financistas internacionais e seus sócios das multinacionais petroleiras, que já se apossaram das riquezas do pré-sal e já garantiram ganhos fabulosos aplicando em títulos do governo do nosso país, cujos juros são pagos com os recursos desviados dos programas sociais e do corte dos investimentos públicos.

Um mantra recorrente do neoliberalismo é o de que o  Brasil estaria sempre ‘cometendo o erro de não se beneficiar de suas riquezas, abrindo sua exploração ao capital estrangeiro, e por isso tem perdido o passo da história’. A mais recente argumentação nesse sentido diz respeito exatamente à exploração do pré-sal. O argumento é de que o petróleo está sendo substituído por outras fontes de energia e, por isso, nós deveríamos acelerar a extração das nossas reservas, antes que elas percam valor.

Isto não passa de um argumento entreguista disfarçado de defesa dos interesses nacionais. O fato é que a partir da descoberta do pré-sal, no governo Lula, o Brasil vinha explorando suas imensas novas reservas na velocidade adequada, vinculando esse processo à reativação de toda uma cadeia produtiva de fornecedores, com geração de riqueza, emprego e renda, bem como destinando larga parcela dos lucros obtidos para as áreas de Educação e Saúde, entre outras prioridades nacionais. Sem pressa, mas com ousadia, pois houve um momento em que a Petrobras era uma das petroleiras que mais investimentos realizava no mundo.

Além disso, o terror criado em torno da substituição do petróleo como fonte de energia não se sustenta. Os levantamentos mais rigorosos indicam que isto não ocorrerá em menos de 70, 80 anos, ou mais, pois novas áreas de prospecção podem ser descobertas, como ocorreu com o pré-sal brasileiro. E mais: é preciso lembrar que, mesmo quando for substituído como fonte de energia (gasolina, diesel, gás liquefeito, óleo combustível), o petróleo continuará sendo largamente necessário como matéria-prima da indústria química, matriz de uma infinidade de produtos, como remédios, cosméticos, borracha e tecidos sintéticos, lubrificantes, alimentos, plásticos etc.

Nesse sentido, no dia em que o petróleo realmente acabar, não apenas o Brasil será afetado, mas todo este modelo de civilização entrará em colapso. Portanto, o que se quer com essa investida sobre as reservas do pré-sal brasileiro (que está na raiz do golpe perpetrado contra Dilma Rousseff, as perseguições a Lula e a destruição de todos os focos de resistência democrática existentes em nosso país) é extrair o petróleo brasileiro a preço barato, até que nossas reservas estejam esgotadas.

O mesmo pretendem fazer com o petróleo da Venezuela, que possui as maiores reservas conhecidas do planeta, e só não fazem o mesmo com a Rússia (outro país com imensas reservas) porque aquele país possui poderio nuclear. É simples assim.

E o que Lula da Silva tem a ver com isso? Por que ele, Lula, estaria mais tranquilo do que seus poderosos adversários, neste momento?

Lula está tranquilo porque todas essas informações não são mais exclusivas de uma pequena parcela de poderosos. Cada vez mais pessoas estão percebendo os verdadeiros motivos por trás dos golpes, das crises, da miséria generalizada, da exploração, de exclusão social e da promoção da intolerância.

Este é o xeque-mate a que me refiro.

Lula não se importa se vão prendê-lo hoje ou amanhã. Isso, para ele, não é o que mais interessa — leia O filho do povo venceu!

O importante é que a informação (a mais valiosa das riquezas humanas) vazou.

E vai vazar ainda mais.

Texto produzido em 16/02/2018