Agora, quando demos adeus às ilusões...

Um dos motores das ilusões e decorrentes frustrações é o que os ingleses chamam de wishful thinking (pensamento desejoso), característica de crédulos e ingênuos, o que somos todos, em algum momento ou por quase toda a vida.

Mas chega uma hora, meus amigos e amigas, em que é preciso pensar e agir conforme a lógica crua dos fatos. Nessa hora a decisão de assumir a maioridade se impõe a cada um desta espécie à qual não escolhemos pertencer, mas pertencemos e com a sua preservação temos compromisso e responsabilidade.

Assim é que os melhores princípios civilizatórios, aqueles que as boas Constituições dos países mais democráticos consagram como fundamentais (ao menos no papel!), esses melhores princípios têm de ser tomados não como coisas conquistadas, definitivas, assimiladas e livres de qualquer ameaça.

Ao contrário, a beleza da liberdade é que ela nos impõe a eterna vigilância. Viver em sociedade e sob as instituições de um Estado ao qual delegamos o poder de identificar e aproximar consensos, e a partir deles definir regras (leis) a serem aplicadas com equidade, viver como cidadão nesse Estado exige de todos e de cada um a reafirmação permanente de seus princípios. Eles são o nosso farol, o nosso norte, a nossa cidadela.

Não nos deixemos enganar: quando falam e agem no sentido da reduzir direitos à educação e à saúde — como ocorre hoje, no Brasil —, o que se pretende na verdade é impor barreiras, dificuldades para que os cidadãos de agora e do futuro não tenham a chance de caminhar em busca da sua maioridade.

É desonesto e criminoso quem diz e trabalha para diminuir as oportunidades do ser humano. Leal ao compromisso da espécie — compromisso que se traduz na busca permanente do amadurecimento  — é aquele e aquela que promove a ampliação das oportunidades de seus semelhantes e, portanto, da liberdade.

Texto produzido em 13/10/2016