Os indignos

Prezado Mauro Santayana,

Você afirma (em "In dubio pro reu", publicado no dia 8/Jul/2016) que "o STF não pode ceder à pressão e à chantagem a que querem submetê-lo, a todo momento, nesta grave quadra da vida nacional, nem ao achincalhamento de suas decisões por alguns juízes e procuradores cujo ego é inversamente proporcional à sua escassa idade, bom senso e experiência, ou, talvez porque não se ensina nos cursinhos que os preparam para os concurso, ao seu entendimento do que são a Democracia e o regime presidencialista, repentinamente alçados a uma súbita e artificial notoriedade, por uma mídia comprometida e irresponsável, que não sabe que está amarrando a sua égua justamente onde a onça bebe água".


Pois bem, no momento em que se fala em implantar no Brasil essa aberração denominada 'Escola Sem Partido', aproveito para alertar que o recém falecido Jarbas Passarinho, quando Ministro da Educação deste país (3 de novembro de 1969 a 15 de março de 1974), retirou do Ensino Médio o estudo da Filosofia, sob a mesma alegação que hoje se faz: a de que tal matéria contribuiria para a formação de subversivos.


Lembro-me do querido Professor João Itagiba, em meio a um grupo de alunos do curso Clássico, do Colégio Canadá, em Santos-SP, no início dos anos 70, indignado com o crime que o dito Passarinho acabara de cometer, certamente inspirado e induzido por influência externa. Dizia: "Os jovens vão desaprender de pensar!", explicando sua discordância com a medida tomada pelo governo militar, para quem quisesse ouvir, apesar dos temerosos anos que então vivíamos.


E, de fato, o que se viu dali em diante, no Brasil, foi o galopante esvaziamento do debate político-ideológico e o progressivo surgimento de uma juventude idiotizada, treinada para atuar sem contestação em prol do usufruto e do fortalecimento da cultura do consumo pelo consumo, o tal materialismo individualista, egoísta, predatório. Passamos a criar gilmares, moros, cunhas, aécios e todos esses que estão aí, abaixo da linha dos sessenta anos de idade, formados sob os auspícios daquela Lei Passarinho.


Ah, dirão alguns, mas Cardoso, Serra, Temer e outros da faixa de idade anterior ao crime de Passarinho e de seus membros externos, hoje influentes na política nacional, formaram-se antes daquela e de outras tragédias impostas pela ditadura militar. Sim, mas estes, por óbvio, se incluem na cota dos indivíduos de pouco caráter, covardes, fracos, traidores de seus grupos e de suas próprias consciências, cota essa que infelizmente existe em todas as sociedades, de qualquer época. São os indignos.



Texto produzido em 10/07/2016