Os micro-holocaustos e o X do problema

A História do homem alcançou seu ápice de insanidade quando ele utilizou pela primeira vez as ferramentas de manipulação social, via meios de comunicação de massas, para construir os sistemas totalitários de direita ou de esquerda que dominaram todo o século passado.

Ao custo de milhões de vidas e horrores inconcebíveis, esses sistemas finalmente fracassaram.

As malignas experiências deveriam ter servido de lição, favorecendo o surgimento de um mundo novo, fundado no respeito à vida, às diferenças e às leis da natureza. E até pareceu que assim seria: uma Declaração Universal dos Direitos Humanos foi promulgada, criou-se a Organização das Nações Unidas...

De forma estranha e cínica, no entanto, a velha arrogância sorrateiramente reconstruiu seus alicerces, fundando-os agora na base sólida das corporações financeiras transnacionais, tendo na linha de frente os poderosos grupos industriais emergidos no pós-II Guerra, a partir da amplificação dos mercados de consumo.

Antes, os inimigos eram o Comunismo e o Capitalismo, entes bem definidos, localizados, personificados, demonizados.

Hoje, o alvo é mais difuso, porém seus objetivos estão até mais explícitos: não interessa aos neo-totalitários acalentar a esperança de que os recursos da Terra sejam capazes de suprir as necessidades da crescente população do planeta.

Por isso, seus ataques se destinam a desmontar toda e qualquer iniciativa progressista e distributiva que se apresente, como têm feito nas duas últimas décadas na América Latina, por exemplo.

Não importam os princípios éticos, o compromisso com a preservação e a evolução humana.

O que querem, esses ultraliberais (ou libertários, como se autodenominam), é preservar o status da antiquíssima classe dos privilegiados. Para isso, fomentam não iniciativas de destruição em massa claramente identificáveis e facilmente condenáveis, como ocorreu no século passado, mas um processo sistemático e disseminado de extermínio de seres humanos.

Micro-holocaustos ocorrem hoje em todo o planeta, seja através do envenenamento alimentar provocado pela desinformação das pessoas, da manutenção das condições de vida insalubres nos guetos das médias e grandes cidades, da matança de jovens de baixa renda pelas forças policiais nas periferias das metrópoles, da ocorrência de desastres naturais produzidos pelo relapso consentido dos controles ambientais, etc.

Se os horrores do passado recente, amplamente conhecidos graças aos meios de comunicação de massas e às sempre renovadas tecnologias de interação global, não foram capazes de determinar um novo rumo no processo civilizatório, para mim fica provado que o X do problema da nossa espécie independe da razão.

Texto produzido em 15/08/2017