Erramos

O fim nos chama.

Lentamente.

Não esperemos que ele nos alcance assim,

mediante magnífico estrondo, 

onda colossal, 

insuportável seca, 

lava infinda descendo dos montes.

Ou mesmo na mais pan das pandemias.

Brindados por aquele meteoro redentor errante.


Não.

Não teremos tal sorte.

O fim nos chama, mas lentamente.

Restemos firmes, 

bravos idiotas!


Chegará o dia em que tudo

nos parecerá natural,

necessário,

lógico.

 

Frente ao calor silente,

ao frio integral,

ao delírio da sede definitiva, sem oásis,

tudo enfim fará sentido.


Não, não pecamos. Erramos.

Chega de autopiedade.

Erramos.

De novo e sempre: Erramos.

Santos, sempre Santos!

Não sei quantas vezes ouvi, ou li, que futebol é igual à vida. Sempre aceitei essa ideia, porque gosto de futebol, embora me perguntasse: por quê apenas o futebol, se todos os esportes coletivos, em especial, baseiam-se no trabalho em equipe e dependem da prática da superação?

Vou tentar entender isso mas, por enquanto, confesso que gosto desse esporte. Ou melhor, sou Santos Futebol Clube, aquele que escolhi para torcer desde que nesta cidade cheguei aos 14 anos, em 1962, no auge da era Pelé.

Não tenho simpatia por qualquer outro time; é como se eles só existissem como nossos coadjuvantes (desculpem a arrogância). Se jogasse contra a Seleção Brasileira, mesmo que esta contasse com jogadores santistas, ainda assim eu torceria pelo Santos. Por isso, por essa inteira dedicação afetiva, certamente, é que só assisto a jogos do Santos, ou jogos cujos resultados tenham algum interesse direto para o Santos.

Para não dizer que sou sectário, admito que às vezes também torço pelo Jabaquara, ou pela Portuguesa Santista, o que é uma prova de que, na verdade, estou sempre torcendo por Santos, a cidade, ou, indiretamente, por aquele time que leva seu nome ou carrega a sua alma. Santos é a minha nação. Sua camisa, a branca, principalmente, é um sagrado manto, a soma de todas as cores.

Quando assisto aos jogos do Santos pela televisão, procuro primeiramente observar o semblante dos jogadores ao entrarem em campo. Quase sempre intuo um bom (ou mau) resultado a partir da expressão dos atletas. Se algum está de cabeça baixa, sempre me preocupo. Prefiro que estejam todos de olhos postos no infinito, pois isso me garante, digamos assim, que estão cientes de seus deveres profissionais; atentos aos movimentos mais sutis dos adversários; focados nas possibilidades que aqueles 90 minutos de suas vidas lhes proporcionarão.

Sei que os arranjos táticos importam; reconheço a importância do preparo físico; respeito a melhor qualidade desse ou daquele atleta das equipes concorrentes, mas entendo que nada supera o comprometimento mental e a disposição emocional de um time, se seus onze jogadores estão imbuídos do mesmo espírito de cooperação e entrega. E isto está claramente expresso no modo como adentram o gramado.

Se isso é ser igual à vida, então começo a entender aquela frase com que definem o futebol. Talvez outros esportes coletivos tenham o mesmo condão de mimetizar a complexidade da existência humana, mas, por algum motivo, só o futebol, o soccer, o calcio ousou conquistar o status que ele detém em nossa sociedade planetária.

Sim, porque o futebol certamente é o esporte mais popular da Terra. Sua capacidade de mobilização é inquestionável e frequentemente manipulada na tentativa, quase sempre frustrada, de se obter dividendos políticos. Um caso exemplar ocorreu em 1970, quando a ditadura militar que comandava o Brasil buscou capitalizar a conquista do tricampeonato na Copa do mundo, no México.

Não obteve sucesso, pois as pessoas, os torcedores, o Brasil inteiro entendeu que aquela estrondosa vitória era fruto do talento, da vontade e dedicação daqueles atletas brilhantes, capitaneados pela genialidade de Edson Arantes do Nascimento, o camisa 10 do Santos Futebol Clube.

Ontem à noite, 6 de dezembro de 2023, o SFC foi pela primeira vez em mais de um século rebaixado para a segunda divisão do futebol brasileiro; e isto exatamente no ano em que Pelé, o atleta do século XX, o inventor do futebol moderno (e de toda essa magia que o cerca) foi sepultado.

Hoje, dia 7, os principais jornais do mundo não perdem tempo falando da equipe que conquistou o Campeonato Brasileiro de 2023; falam do Santos Futebol Clube, do time de Zito, Gilmar, Mengálvio, Lima, Carlos Alberto, Durval, Pepe, Coutinho e de tantos outros mágicos que ajudaram Pelé a construir uma lenda.

Santos, sempre Santos!