Não são as "classes", mas o indivíduo

Venho lendo um livrinho denominado "O que é ideologia", da Coleção Primeiros Passos/Editora Brasiliense, de autoria da sra. Marilena Chauí. O objetivo dessa coleção é excelente, na medida em que põe à disposição de todos os públicos uma visão geral do que seja o assunto-tema de cada edição, despertando, em tese, o interesse do leitor para o aprofundamento da referida matéria e de suas correlações.

Que o texto da sra. Chauí sobre ideologia não se preste exatamente à compreensão desse tema, mas derive para uma explicação do que seja "luta de classes", tudo bem, que assim seja, embora o estudante que tenha adquirido o referido livrinho na esperança de obter luzes sobre uma determinada coisa seja, à sua revelia, conduzido a outra completamente diferente. Com alguma adaptação no texto, melhor teria sido denominá-lo 'O que é luta de classes'. A bem da coerência e da honestidade intelectual.

Ainda não cheguei ao fim da 'obra', mas pelo que já li sinto-me autorizado a dizer: quanta pretensão! O que mais me espanta nesses autores e autoras é o esforço de colocar Marx em oposição a Hegel, como se o primeiro houvesse "demonstrado" uma possível inconsistência no sistema filosófico proposto pelo segundo, quando na verdade o que fez ― a se acreditar na interpretação exposta pela sra. Chauí ― foi simplificar os conceitos de dialética e da contradição como motor da história: o afirmar-negar-negar a negação-atingir posição de conciliação dos opostos, etc. 

Pela simplificação exposta no tal livrinho, tudo se resumiria à dinâmica da luta de classes, resolvendo-se o enigma da existência humana e o desfecho de sua história por meio de uma revolução a ser conduzida pelos explorados de todos os matizes sociais, mas nunca antes de o capitalismo haver alcançado o seu momento máximo de geração de abundância, para que, afinal, haja o que os tais revolucionários possam compartilhar.

'É de sentar e chorar' (na margem do rio), como diria um certo Paulo Coelho. À moda de Hegel, cabe a pergunta: feita tal revolução, com a abrangência que seus idealizadores (e intérpretes) propõem, como ela lidaria com a sua contradição? Sim, porque ela, a sua contradição, se dará, inevitavelmente, na medida em que continuaremos sendo 'humanos, demasiadamente humanos'... Por fim, ouso dizer: o que importa não são as "classes", idiotas, mas o indivíduo!

Texto produzido em 8/03/2014