O PT errou? Não, fez um tipo de revolução

A história não se faz em linha reta. Isto já é mais do que sabido, embora continuemos insistindo em ignorar.

Tal verdade se impõe de novo, agora, quando tantos, de forma oportunista, dirigem críticas cômodas ao Partido dos Trabalhadores (PT), atribuindo-lhe equívocos que, no momento em que eram cometidos — digamos assim —, estrategicamente relevaram.

Dizem esses 'engenheiros de obras feitas' que o partido de Lula pecou ao se aliar a segmentos fisiológicos para alcançar o poder e que, por isso, hoje paga o preço caro de uma possível extinção como legenda partidária.

Talvez.

É provável que o PT venha mesmo a deixar de existir após o pretendido plebiscito e a deblaque anunciada para as próximas eleições municipais (quem sabe também presidenciais, ou mesmo gerais). Não será de se estranhar se isso vier a acontecer. Menos ainda de se lamentar.

O PT não errou, lá atrás, quando se aliou ao centro. Ele quis chegar ao poder e fez seu caminho para alcançar aquele objetivo. Se, no processo, veio a trair uma alegada pureza original de princípios, isto se deve menos às opções ditas erradas que o partido tenha feito, e mais à natureza dos homens que o constituíram, em nada diferente da natureza de todo e qualquer homem no exercício da política, em qualquer latitude ou época, e nas circunstâncias históricas que cada um viveu.

O PT se aburguesou, se corrompeu nesse processo? Ora, se restringirmos nossa avaliação ao plano restrito e fácil do moralismo oportunista, a resposta será sim. Inevitavelmente, sim. Mas, o que queriam? Afinal, o que se fez aqui não foi um rompimento à moda stalinista, ou maoista, ou cubana. O que houve no Brasil nesses 13 anos foi uma ousadia engendrada e posta em prática por um partido institucionalizado, o dos Trabalhadores.

Isto sem ignorar que aquelas experiências socialistas radicais também sofreram graves desvios, se não de aburguesamento, mas com certeza de autoritarismo, o que não é menos ruim.

Mesmo limitando-se a uma ousadia, há de se reconhecer que nesse período de poder o PT de Lula e depois de Dilma (que não são continuidade, mas se harmonizam) fez uma revolução social no Brasil. Uma dessas que só a História, com sua sabedoria, no futuro saberá julgar.

Ao proporcionar ascenção social a alguns milhões de pessoas, garantindo-lhes o direito de comer, morar, trabalhar, estudar, sentirem-se integrantes de uma sociedade, Lula e Dilma já inscreveram seus nomes no reduzido panteão dos heróis nacionais. Foram esses avanços, frutos daquela ousadia inicial, que nos levaram às difusas manifestações de junho de 2013, onde os novíssimos cidadãos saíram às ruas exigindo mais. Mais tudo.

Se desse despertar da cidadania restar, dentre outras coisas, a extinção do PT como legenda, paciência; a história cobra seu preço. Mas um fato ninguém pode contestar, de tão evidente que é: esses 36 anos de existência do PT, particularmente os últimos 13, mudaram os paradigmas sociais de Brasil.

Uma fera está solta. Na cabeça das pessoas, nas ruas e nas redes.

Amém.

Texto produzido em 22/06/2016