Vem aí uma tempestade de merda

À moda de Norman Mailer, o desbocado escritor norte-americano (1923-2007), tenho a dizer mais uma vez e sempre que "there's a shit storm coming like nothing you ever knew". Se não, vejamos os três parágrafos abaixo, extraídos de artigo do jovem Edoardo Campanella, da Universidade de Madrid, publicado no site Project Syndicate, citando o livro "The Great Leveler", de Walter Scheidel:

(Walter) Scheidel traça o problema da desigualdade de volta à Primeira Revolução Agrícola, há mais de 10.000 anos. A época do Holoceno marcou o início do primeiro período de clima interglacial e criou um ambiente favorável para o desenvolvimento econômico e social. A domesticação de plantas e animais levou a enormes excedentes de produção, que os membros dominantes da sociedade então acumulavam como propriedade e riqueza hereditária. Em consequência a isso, houve coerção, submissão e predação, e a grande desqualificação da humanidade decolou.

Ao longo do tempo, os direitos de propriedade se tornaram uma fonte de poder político ou mesmo de autoridade espiritual. Estruturas sociais, além da casa da família, começaram a se formar, dando origem a clãs e tribos, e, eventualmente, a impérios e estados. Ao mesmo tempo, as disparidades entre os poderosos e os indefesos estavam consagradas em rígidas hierarquias sociopolíticas. A salvo de qualquer interferência externa, como invasões ou desastres naturais, as elites governantes gozaram de longos períodos de estabilidade e prosperidade econômica crescente e ofereceram pouca redistribuição à maioria a elas subordinada.

Mas, como argumenta Scheidel, todas as sociedades acabam atingindo um limite demográfico, político ou tecnológico ao nível de desigualdade que podem tolerar. Uma vez que este limite de dor é violado, intervenções democráticas pacíficas não têm mais nenhuma eficácia. Somente a carnificina, o caos e a destruição podem restaurar a equidade no sistema, interrompendo a ordem estabelecida, re-atribuindo papéis sociais e destruindo ativos físicos e outras formas de riqueza acumulada. Quando isso acontece, os ricos e os poderosos de repente estão fora do jogo. Scheidel conclui que não pode haver um termo intermediário: a desigualdade extrema cede apenas à extrema compensação.

Minhas amigas e meus amigos, o passo da história está acelerando. Não quero prejudicar o sono de ninguém, mas os incêndios estão a pipocar por toda parte. A loucura ostensiva tomou o poder de assalto — veja este outro artigo: The madness of king Donald. Os corruptos já não se esgueiram pelas frestas do sistema, mas tomaram a frente dos Estados, como vemos aqui neste Brasil. Os endinheirados perderam a capacidade de dissimular sua ganância. E as massas eternamente manobradas estão atônitas.

Vem aí uma tempestade de merda, como nenhuma outra que você já tenha visto ou ouvido falar.

Texto produzido em 10/12/2017