Isto seria uma revolução

Quando proponho Filosofia para todos, é claro que não estou defendendo que se passe a enfiar na cabeça de crianças e jovens sequer um resumo das formulações dos grandes pensadores da Humanidade, muito menos que se eleja um ou outro filósofo como modelo ou referência.

O que julgo necessário é tomarmos consciência de que a Filosofia não é um ente misterioso, reservado a poucos eleitos. É preciso que todos saibam que a vida das pessoas, a forma como as sociedades se organizam através dos tempos resulta do modo como os homens pensaram e pensam. É o pensamento humano que molda nossas vidas. Isto precisa ser amplamente sabido, para que se comece a vislumbrar um caminho real de esclarecimento.

Somos o que somos, fazemos o que fazemos porque um dia alguém formulou um pensamento que atendeu às conveniências daquele momento. É claro que isso é uma simplificação, pois não é exatamente desse modo mecânico, articulado, que as coisas da vida acontecem. Mas o fato é que o pensamento molda a ação.

Penso, por exemplo, que tornar corriqueiro o estudo da Ética e da Moral, essas disciplinas filosóficas que fundamentam as relações entre as pessoas e a convivência social, é o que nossa época está pedindo. Sem dominar esses dois conceitos e a forma como os utilizamos na vida cotidiana, o processo civilizatório continuará patinando, sofrendo recaídas dolorosas e desnecessárias.

Se a Ética e a Moral são o que define todas as ações humanas, por quê não possibilitar que as pessoas as conheçam, analisem, discutam desde a infância? Se somos capazes de ensinar nossos filhos a andar, estimulando seus próprios impulsos motores, o que nos impede de contribuir para que eles percebam as relações de causa-efeito de seus atos?

Nós já fazemos isso, apenas não tornamos tal prática um método, uma responsabilidade, um compromisso com a formação do futuro. Assim, o que defendo é a adoção desse comportamento metódico e consciente por parte das pessoas esclarecidas e, a partir delas, que esse comportamento metódico seja disseminado a parcelas cada vez mais amplas da sociedade.

Se a transformação de uma proposta dessas em 'política de Estado' é uma utopia risível (pois a conquista do esclarecimento, afinal, é a negação do Estado), julgo que cabe a cada um, conscientemente, fazê-lo. Daí porque a bola está de novo e sempre nas mãos das pessoas, dos seres humanos, de nós.

Texto produzido em 17/10/2016