Veja a árvore, mas não perca de vista a floresta

Uma das dificuldades da vida, para quem se recusa a ser mansamente conduzido, é a de atuar a partir das exigências do cotidiano sem perder a visão do todo. É não perdermos as referências do nosso presente como cidadãos de uma cidade, de um país, de um continente, tanto quanto percebemos que deste mundo somos o homo, o gênero humano, o ser a quem a Terra está destinada.

Os avanços científicos têm nos ajudado nesse sentido. E o clip "Pálido Ponto Azul", de Carl Sagan, elaborado a partir de imagens capturadas pela Voyager 1 (que no dia 14 de Fevereiro de 1990, após 13 anos no espaço, ao se aproximar das bordas do Sistema Solar recebeu o comando de virar-se e fotografar os planetas que deixara para trás) é o melhor exemplo disso.

Dizem que a única maneira de nos apossarmos de um lugar que ainda não conhecemos é subir ao ponto mais alto e olharmos em volta, interiorizando sua abrangência geográfica e os sentimentos que dali emanam. Nós, homens comuns, ocupamos um espaço na superfície desta Terra, mas, para dela tomarmos posse e por ela nos sentirmos de verdade responsáveis é imperativo que a enxerguemos em sua grandeza e insignificância cósmica.

Isso, como Sagan demonstrou, já está ao nosso alcance. E são essas — dentre outras — as lições que as novas gerações têm de aprender de seus pais e nas escolas. Se esse tipo de informação tem o poder de encantar e instigar adultos, o que não dizer dos pequenos... Minha companheira Silvia, professora de crianças de 5, 6 anos, tem alcançado resultados fantásticos com seus alunos simplesmente encenando com eles trechos de óperas.

Quando o fez com Nessun dorma, da Turandot, de Puccini, o impacto foi tão intenso que muitas se emocionaram , envolvidas pelos sentimentos projetados na interpretação de Pavarotti, mesmo desconhecendo o significado de suas palavras e sem nunca terem ao menos ouvido falar de ópera, pois levam suas vidas numa favela da periferia de Santos, São Paulo, Brasil.

Isso, senhores e senhoras, é atuar com responsabilidade em benefício da maioridade da espécie e do nosso avanço civilizatório.

Texto produzido em 26/10/2016