Uma ignorância monstruosa está no controle

"Não é impensável que a reordenação social se faça sem convulsão social, por via de um reformismo democrático. Mas ela é muitíssimo improvável neste país em que uns poucos milhares de grandes proprietários podem açambarcar a maior parte de seu território, compelindo milhões de trabalhadores a se urbanizarem para viver a vida famélica das favelas, por força da manutenção de umas velhas leis. Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para a revisão da institucionalidade, as classes dominantes apelam para a repressão e a força."

Nessa quinta-feira em que contou de sua infância sem ter o que comer e de sua juventude sem dinheiro para tomar um ônibus entre a Vila Carioca, onde morava, e a empresa Villares, onde trabalhava, no começo da tarde desse 15 de setembro de 2016 em que Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez chorou em público, um dia após ter sido responsabilizado por todos os males do nosso País, numa peça de ficção produzida por um bando de fascínoras imberbes, nesse momento lembrei-me das observações acima, de Darcy Ribeiro, na Introdução de seu incomparável livro síntese, "O povo brasileiro".

O choro rápido, mas convulsivo, de Lula, o Presidente do povo, brotou de sua percepção de que afinal não foi, de novo, desta vez. Perdemos. Ninguém ainda ganhou, mas já perdemos. Perdemos nós, que acreditávamos estar em curso a construção de um homem novo, a partir da experiência miscigenada e há cinco séculos desenvolvida nesta parte do planeta. Mergulhamos, também aqui e agora, numa era de trevas. Mas que não haja ilusão, em lugar do obscurantismo anterior, medieval, sombrio, tenebroso, este será dominado por LEDs. E pela celebração da ignorância.

Texto produzido em 16/09/2016