Adeus aos mitos

Sim, a autoconstrução da nossa espécie implica na derrubada dos mitos. De todos os mitos.

Quem tiver a curiosidade de ler o ensaio de Kant citado em É preciso voltar ao princípio, minha postagem anterior, verá que o filósofo busca conciliar a regra de ouro do Iluminismo (a opção irrecusável pela autoconstrução da Maioridade) com dois resquícios do medo primordial ainda agora presentes na vida das pessoas: Religião e Estado.

Mas Kant publicou seu trabalho em 1784, alguns anos antes do furacão que varreria as ruas de Paris, em 1789; muito antes da Revolução Industrial deflagrada pela Inglaterra, nas primeiras décadas do século seguinte; muito antes da publicação do Manifesto Comunista, por Marx-Engels, em 1848; muito antes da invenção da Linha de Montagem por Henry Ford, na América, em 1913; muito antes das duas Grandes Guerras mundiais, da ascenção do Comunismo, da explosão da primeira bomba atômica, da massificação do consumo de produtos supérfluos, da queda do Comunismo, do surgimento das grandes corporações financeiras transnacionais, da vitória do individualismo sobre a individualidade e do império do ridículo a partir do surgimento das redes sociais eletrônicas globalizadas.

Hoje, neste exato 2017 a caminho de seu término; na velocidade autodestrutiva em que nos encontramos, esqueçam o medo herdado dos primórdios da espécie.

Não há o que nos salve.

Não há Religião, por mais compassiva que seja; não há Estado, por mais bem-estar a que se proponha.

Nosso modelo de civilização faliu. Esgotou-se. Limita-se a repetir velhos e cansativos erros. Pior: amplifica-os, abreviando o tempo que resta para a consumação da catástrofe derradeira desta Era.

Qual catástrofe? Qualquer uma: ambiental, nuclear, biológica, psicossomática... Escolha. Aposte.

E torça para que ainda tenhamos tempo para retomar a busca da Maioridade do homem vislumbrada no passado, em especial pelos filósofos do Iluminismo.

Texto produzido em 22/08/2017