Esqueçam o Contrato Social (ou quase)

Esqueçam Thomas Hobbes e John Locke. Esqueçam Jean-Jacques Rousseau. Todo o esforço intelectual que levou à formulação dos princípios propostos em "Leviatã" (1675), "Segundo Tratado sobre o Governo Civil" (1682) e "O Contrato Social" (1762), pilares reguladores das sociedades-estados constituídas nos séculos XV e XVI, foi superado neste século XXI pelos interesses do mercado, esse poder invisível, difuso, impessoal, impenetrável e, no entanto, 'acolhedor'.

A Justiça, seus códigos, liturgias e agentes são hoje apenas instrumentos/ferramentas a serviço de uma única causa: a preservação do status do patronato (na terminologia utilizada por Darcy Ribeiro), mas num contexto planetário, pois estamos falando agora de relações globais, nas quais sempre se admitem novos sócios, ou seja, os neopatrões eventualmente emergidos dos vastos grupos situados nas demais camadas da estratificação social.
  
Que não se espere equidade de quem (e do que) não mais está a serviço da vontade geral, na visão de Rousseau. Isso (a instituição e as leis que a ela cabe aplicar) e esses (seus agentes executores) constituem tão-somente um palco para um teatro de cínicos ou ingênuos, regiamente auxiliado pelos mecanismos manipuladores a cargo dos meios de comunicação corporativos.

Não se desespere, por consequência, diante da apropriação do Estado pelas forças do atraso, como ocorre neste exato momento no Brasil. Esse Estado que aí está (e que está em todas as nações, para que fique bem claro) não serve ao interesse geral. Esse Estado serve ao patronato, que pode ser 'amável', até 'acolhedor', mas com certeza é violento e vingativo quando contrariado.

A propósito de juízes, leia esta postagem do blog Tijolaço: "Moro não quer ser chamado de Savonarola. E de Vidigal, pode?