O adversário soma

"Enfrentar um oponente — no estilo ocidental — com uma força oposta direta limita os possíveis resultados de vitória ou de derrota. O mestre do aikidô não enfrenta o adversário dessa maneira. Ao contrário, ele exerce sua força de forma a se harmonizar com ela, em vez de resistir à força do golpe, e tanto ele quanto o adversário se movimentam juntos ao longo do vetor determinado pela força combinada de ambos. Na verdade, o mestre usa a energia e a força do 'adversário' para percorrer uma distância maior numa nova direção, uma oportunidade que não é possível sem o ataque. Tradicionalmente, ele demonstra gratidão por essa nova possibilidade, ao final do encontro, ao agradecer ritualmente ao adversário a dádiva de sua força e energia."

Os ensinamentos acima — extraídos das páginas 147/148 do livro "Paciente como ser humano" (Summus Editorial, 1993), de Rachel Naomi Remen — cabem, à perfeição, no que está em curso nestes exatos dias, no Brasil.

Enquanto no proscénio muitos atores se digladiam, desferem golpes e infligem baixas; enquanto no front o caos de instala, lá longe, onde o jogo é realmente jogado, a maestria é o que se impõe.
Nada de exaltações.

Zero de paixões.

Lá, onde o jogo é jogado, o que se impõem são os movimentos coordenados com os do adversário, esgarçando seu ímpeto, deslocando-o de seu centro de gravidade.

Pense no drible perfeito do craque, quando este supera o oponente para além de uma possibilidade de reação, ao lançá-o ao solo ou no sentido aposto do seu objetivo, clareando o caminho rumo ao ponto ao qual deseja chegar. É o estado da arte das leis da física, aplicado ali, na nossa frente, normalmente produzido por um sujeito comum, de poucos estudos, mas de imensa sabedoria intuitiva.

Não nos deixemos enganar pelas informações e pela maioria das análises que nos chegam através dos meios tradicionais de comunicação, ou das redes sociais.

Houve um momento de construção do caos.

Veio o caos propriamente dito.

Agora estamos em guerra ostensiva e plena.

Não uma guerra como as de antigamente, travadas em campo aberto, sanguinárias; nem como as guerras mais recentes, ditas limpas, em que bombas devastadoras atingem os inimigos, lançadas de milhares de quilômetros de distância, a partir de uma sala refrigerada de comando.

Não, esta guerra que aqui se trava é mais sofisticada. É mental, psicológica, até elegante.

Pode vir a ser um grande momento para o Brasil. Pode...

Fiquemos atentos a seus movimentos.

A força dispendida pelo adversário soma.

Texto produzido em 22/09/2017