"Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade"

Já disse aqui, e meus posts testemunham, que persigo a realização daquilo que os melhores têm nos ensinado ao longo destes tempos históricos: a prática do "pessimismo da inteligência" e do "otimismo da vontade".


O fim de 2017 se aproxima.


Neste ano insano já perdi um grande camarada; nem mais me espanto com as iniquidades com que me deparo (nos deparamos) a cada instante; e não tenho qualquer ilusão de que as massas brasileiras venham a ser iluminadas e se rebelem contra as violências que estão a destruir o nosso presente e a condenar o futuro dos nossos filhos e netos.


Extraio da excelente entrevista concedida pela presidenta honesta Dilma Rousseff (deposta por uma quadrilha de corruptos chefiada por Michel Temer e operacionalizada por Eduardo Cunha), a seguinte declaração, que pode ser ouvida a partir dos 4min22seg da Parte 3"O golpe foi feito para nos enquadrar econômica, social e geopoliticamente no neoliberalismo".


Dita quase como se estivesse a compartilhar um segredo, a referida declaração não foi, infelizmente, aprofundada na entrevista. Mas, quem leu o soberbo "A Desordem Mundial", último livro de Luiz Alberto Muniz Bandeira, sabe exatamente do que se trata.


O golpe de 2016 (que começou a ser construído em 2003, após a posse de Lula) tem todos esses aspectos e personagens internos patéticos (tais como a já referida quadrilha de Temer e Cunha); tem o 'auxílio luxuoso' (porque regiamente remunerado com o dinheiro arrecadado do contribuinte) do Judiciário e do Ministério Público do Brasil; tem a mão suja da imprensa corporativa nacional; e tem a contribuição decisiva da classe média ignorante, preconceituosa e manipulável do país.


Tem tudo isso, mas tem, acima de tudo e de todos, a implacável determinação do sistema financeiro-militar-petrolífero que comanda o Ocidente de parar o Brasil. A famosa frase de Obama — "Esse é o cara... Eu adoro esse cara." — , pronunciada no encontro do G20, em 2 de Abril de 2009, em Londres, não foi um elogio. Foi o dedo apontado para aquele a ser destruído.


Foi a senha pública e cínica entregue ao conhecimento do mercado pelo primeiro presidente norte-americano negro perfeitamente domesticado, e que já àquela altura apenas cumpria o papel buffoon do sistema.


Lula envaideceu-se, claro!, pois o suposto elogio traduziria um reconhecimento ao sucesso crescente de seu governo, onde se destacavam as políticas de inclusão social, distribuição de renda, afirmação da cidadania e construção da autoestima do brasileiro.


Não se tratava de elogio, porém.


Tratava-se do que veio, paulatinamente, a se revelar: a decisão de destruir aquele Brasil.


E onde está o "otimismo da vontade"?


Está no fato de que continuamos vivos. E, enquanto vida houver, há esperança.


Texto produzido em 25/11/2017