Um mundo acabou

Dizem que daqui a uns 7,5 bilhões de anos o Sol vai esfriar e então a vida na Terra será extinta. Falta muito, muito tempo ainda para que isso venha a ocorrer; não devemos nos preocupar, portanto. Talvez devêssemos nos incomodar um pouco com o que está acontecendo agora, nesta exata primeira metade do séc. XXI. E este fato de hoje é o seguinte: um mundo acabou.

Quase todos nós fazemos de conta que a vida é uma continuidade, que as pessoas morrem mas as ideias ficam, que o avanço da espécie é inexorável, que o esforço, o magnífico esforço intelectual de tantos seres que nos precederam, desde, por exemplo, os mais antigos gregos, que tudo isso gerou um ganho civilizatório.

Sejamos realistas, porém. É só olhar em volta para enxergar os desertos que estão se formando em todos os campos, latitudes e longitudes. As artes já não nos instigam. A filosofia não nos desafia e cada vez mais se esconde lá nos livros que a poucos lêem. A ética relativizou-se. A religião caiu no ridículo. Da moral, nem se fala...

Nada ficou de pé e tudo o que era sólido parece que 'se desmanchou no ar'. Estamos entregues à nossa própria sorte, como se dizia no tempo em que essa palavra nem sempre significava fortuna. O que restou e está no mercado é a frustração, um sentimento difuso contra tudo e contra todos, junto com o individualismo imperativo e esse tsunâmico salve-se quem puder.

O que a nossa espécie fará com essa liberdade — digamos assim — conquistada, ainda é uma incógnita. Estamos em pleno turbilhão e, numa condição dessas, não é possível nem permitido a ninguém apontar caminhos. O espanto permanente agora é a nossa rotina, o normal de um mundo que terá de se reconstruir a partir das cinzas que já estão aí e das que virão.

Texto produzido em 11/08/2016