Breve roteiro para superar a menoridade - III

Penso que o caminho incontornável que temos à frente, com vistas à realização da inadiável tarefa ━ dado o estágio de degenerescência e desagregação em que nos encontramos ━ de superarmos a menoridade da espécie humana, passa pela construção de um modelo educacional ético e verdadeiramente inclusivo.

Não diria que se trata de um "novo" modelo, pois entendo que este a que me refiro é, em verdade, o tipo de educação que deveria ter sido adotado desde sempre, se a cultura do poder (físico e/ou mental) do mais forte não houvesse prevalecido nas relações entre os humanos, desde as nossas raízes ancestrais.

Se os seres mais sábios, dentre aqueles que originaram o homo sapiens, tivessem compartilhado com seus grupos não o mistério de suas descobertas ━ desta forma tornando-se donos de uma ascendência poderosa sobre os demais ━, se tivessem compartilhado não o mistério, mas o método que seguiram para alcançá-las, nossa História teria sido bem diferente.

O ato de ensinar o método e, portanto, empoderar outras pessoas a repetirem e superarem aquilo que aprendemos é prática recente entre nós, não mais distante do que 4 a 3 mil a.C. Ainda assim, apenas alguns eleitos nesse modelo tiveram acesso a tal oportunidade libertadora.

Foi sobre esse paradigma seletivo de transferência de conhecimento que se assentou o alicerce desta nossa civilização, esta que em sua melhor face denominamos humanismo e que em sua melhor prática traduzimos em democracia.

Ou seja, humanizamos algumas relações e democratizamos algum conhecimento, mas sob certas condições de 'temperatura e pressão', de modo a que não mais do que alguns pudessem vir a adquiri-lo e desenvolvê-lo (para o bem comum?), enquanto a imensa maioria restou e resta entregue à própria sorte, imersa na ignorância e/ou submetida à insegurança codificada de qualquer fé.       

Quando proponho o ensino do método de se desvendar os mistérios do mundo ━ e repito que a negação desse ensino está na raiz dos males de nossa civilização, pois foi essa primitiva escolha que fundamentou a estrutura de poder que desde sempre nos submete ━, quando faço essa proposta estou falando de trazer para o mundo de todos e todas, desde a mais tenra idade, a possibilidade e o direito de compreender que habitamos um planeta, que este planeta viaja no cosmos, que é um ser vivo, que é finito, que para melhor desfrutá-lo temos de agir com sabedoria, ética e tolerância.

E estou falando, ainda, que esses ensinamentos não podem ser matérias de estudos complementares ou reservadas aos mais velhos, mas que se tratam de questões fundamentais, preliminares, iniciais da formação de todo ser humano. Sem primeiro conhecer seu lugar no mundo, saber onde se habita e vislumbrar a singularidade de sua existência cósmica, nossa espécie permanecerá para sempre nesta jornada infame, construindo sua História pelo meio mais doloroso e de improvável sucesso.

Alguns de nós, graças à genética, à condição de classe, às particularidades de nossa criação e ao ensino privilegiado que possamos ter tido ━ isto é, ao meio a que pertencemos e às condições objetivas da nossa existência , sabemos até mesmo aonde podemos chegar ━ o impressionante sistema desenvolvido por Marx-Engels é prova disso. No entanto, e isso é uma verdade inarredável, não aprendemos ainda a trilhar um caminho viável para alcançarmos esse fim sempre utópico. É a isto que se destina o modelo educacional que proponho.