O que nos interessa saber, hoje

Hoje, 25 de agosto de 2016, tem início a etapa final do que poderá vir a ser o cometimento de uma das maiores violências políticas de que se tem notícia na história das nações ditas civilizadas: a deposição parlamentar de uma governante, sem que existam crimes que justifiquem tamanha agressão contra o direito dos mais de 54 milhões que a elegeram e, portanto, contra a democracia.

Duas motivações alimentam essa violência. A mais clara é de caráter interno e visa à ampliação dos ganhos daqueles que já vêm se beneficiando da nova situação, desde o afastamento provisório de Dilma Rousseff, ocorrido a 12 de maio. Esse grupo inclui, além de senadores corruptos ou ressentidos, todos os segmentos nacionais promotores do golpe, os quais são movidos pelo interesse comum de continuar a assaltar o Estado brasileiro, beneficiando-se dos altos juros pagos pelo governo para o financiamento da dívida pública, e da manutenção e/ou ampliação de antigas benesses, como a obtenção de empréstimos de baixo custo junto a bancos oficiais, por exemplo.

A outra, mais poderosa, provém do exterior e visa objetivos geopolíticos, reunindo as grandes corporações e as nações hegemônicas. Esses querem garantir o acesso barato às riquezas naturais do Brasil, como petróleo e gás, minérios abundantes ou raros, alimentos primários, água, biodiversidade e outras. Querem manter o País sob a tutela dos EUA, afastando-o em definitivo da influência de China e Rússia, para que as riquezas nacionais sirvam preferencialmente ao Ocidente. Mas também querem continuar lucrando com os juros altos pagos pelo país para o financiamento de sua dívida pública.

Contra o grupo interno é possível lutar. E é isto o que a chamada resistência democrática vem fazendo desde que Lula assumiu a Presidência pela primeira vez, em janeiro de 2003. Não tem sido um caminho fácil, mas os interesses nacionais avançaram muito nesses 13 anos, proporcionando distribuição de renda, ascensão social, afirmação da nacionalidade e reconhecimento dessas conquistas nos foros internacionais.

Contra o grupo externo associado ao interno, que é o que está ocorrendo neste exato momento, no Brasil, essa luta é quase insuportável. Digo quase, porque mesmo no plano da geopolítica as doutrinas que regem o entrelaçamento das redes de conveniências podem ser e são dinâmicas. As certezas de agora, logo poderão ser substituídas por outras. Assim, o que interessa a nós, brasileiros democratas e cidadãos do mundo, hoje, é ter a consciência de que — venha o que vier a acontecer — nada estará perdido. Nem ganho.

Texto produzido em 25/08/2016