Filosofia sem medo

Fariam grande bem os filósofos se explicassem às pessoas desta planície predada, patética, errática em que nossa civilização se transformou — sem surpresa para ninguém, é bom que se diga — o que, mesmo, disseram Kant, Hegel, Marx, Nietzsche e tantos outros mergulhadores das profundezas do homem no universo.

É de Filosofia que precisamos agora. É desse conhecimento fino, incisivo, sutil e no entanto concreto, inteiramente presente nas ações humanas cotidianas que nossa civilização carece. Está faltando esclarecer esses vínculos para públicos mais amplos.

É preciso desmitificar a Filosofia. Já erramos muito esperando que as ideologias nos salvassem. Não salvaram e não salvarão. As ideologias dividem os homens; promovem antagonismos; não contribuem para a conciliação da espécie e alimentam a ignorância de seus seguidores, pois os impedem de pensar e praticar o que pensam com independência intelectual. Uma vez filiado a uma corrente ideológica, é quase impossível dela divergir — perde-se o chão e os possíveis amigos. 

Religião? Já erramos outro tanto também, acreditando com todas elas em alguma salvação. Basta olhar em volta: por nossas crenças só temos ajudado a erguer palácios, outorgando poderes a uns poucos e, mais uma vez, abrindo mão de pensar e agir conforme o bom senso é capaz de nos indicar a cada momento, desde que tenhamos ciência dos fatos sem dogmas nem manipulações. 

Todo homem, toda mulher possui o poder de pensar e o dom de intuir. E tanto mais terá, na medida em que praticar tais virtudes de forma corriqueira, habitual, frequente. Não há nenhum mistério nisso. Nenhum conhecimento transcendental ou cabalístico. É a vida. Equivalente ao desenvolvimento da uma habilidade motora, tão comum nos atletas bem-sucedidos. Se eles conseguem, por quê não cada um de nós, com nossos cinco sentidos e o poder de raciocinar?


Texto produzido em 25/10/2013