Meus deuses, o que estamos fazendo?!

Não, recuso-me a atribuir apenas à idade que já avança, sem dúvida, esse sentimento a cada dia mais forte e dramático de que estamos destruindo um sonho.

Penso na figura do austríaco Stefan Zweig, que aqui viveu e morreu, deixando-nos entre outros primores a obra "Brasil, País do Futuro".

Penso no húngaro Paulo Rónai, que na Europa conheceu "Dom Casmurro" e por meio da genialidade de Machado de Assis vislumbrou a força fantástica de um povo criativo, tanto que nos escolheu como segunda pátria e destino de vida.

Não sou especialista em nada, apenas um jornalista com uma cultura geral caótica, fragmentada, caleidoscópica, na verdade mais um curioso e cético do que um formulador de certezas. Ainda assim, insuficientemente formado, percebo a catástrofe que estamos a construir, até porque ela está evidente.

Faça você a sua lista de homens e mulheres notáveis que o Brasil vem perdendo nos últimos cinquenta anos, em todas as áreas do conhecimento, da política, das ciências, dos ofícios e das artes, mesmo das mais populares...

Tente enxergar em seu entorno, do Norte ao Sul do país, quem hoje estaria à altura de ombrear-se a qualquer desses nomes. Não há ninguém! Estamos vivendo em meio a um deserto de ideias, um deserto em expansão.

E não se iluda pensando que há gênios escondidos, anônimos, prontos para serem revelados. Não, nesta era da comunicação instantânea ninguém mais se esconde. Todos estamos expostos à luz do dia. E sabemos, todos, que a mediocridade é o que vigora.

Pensa-se mal, escreve-se mal, pinta-se mal, compõe-se mal, faz-se péssima política, administra-se mal a coisa pública, sem visão nem ousadia.

Vivemos, quando muito, pelo aqui-agora.

Sobrevivemos sem desafios a enfrentar, sem metas a cumprir, sem sonhos, sem ética. E não era, não é para ser assim. Temos, sim, um destino a cumprir no processo civilizatório deste planeta.

Somos resultado de uma harmônica mistura de raças, culturas e credos. Somos herdeiros de uma transcendência da qual não nos cabe abrir mão.

Não somos esse lixo humano em que estão nos transformando.

Texto produzido em 2/12/2016