São as pessoas, idiota!

"A classe média é reacionária", disse alguém há pouco, arrotando uma pretensa sabedoria, sabe-se lá com que autoridade para tão peremptório julgamento. Pois eu aqui, da maneira mais singela que o meu verniz de educação permitir, afirmo, de forma categórica: são as pessoas que importam, idiota, e não as classes sociais.

Os segmentos socioeconômicos inventados pela Sociologia constituem tão-somente um recurso precário, transitório, destinado a prover argumentos utilitários a propagandistas e marqueteiros, em especial a coordenadores de campanhas eleitorais, com apoio da nobre Estatística.

Tudo o que realmente importa na vida tem a ver com as pessoas. Com as nossas heranças genéticas; com as espécies, qualidade e quantidade dos alimentos que consumimos. Com o ar que respiramos, a luz que captamos, os sons que ouvimos.

O aparecimento de classes sociais nessa equação — e, por consequência, a imposição do fator ideologia — é determinado por uma variável secundária, embora geradora de todas as tragédias que vêm causando aflições e desgraças às pessoas, desde sempre: a distribuição de poder e repartição de riquezas.

Mas, não é porque o secundário indevidamente assumiu o primeiro plano dos embates políticos, no processo de construção deste nosso modelo de civilização, que o fator "classe social" deva ser elevado à categoria de protagonista inevitável do presente e do futuro. O que importa são as pessoas e as circunstâncias — as íntimas, determinadas por nossa genética e psique, e as dos inúmeros grupos sociais a que pertencemos.

Veja bem: dos inúmeros grupos sociais a que pertencemos, e não de um único, irresponsavelmente denominado de "classe social", média, alta ou baixa. É dessa discussão categorizada que não precisamos mais. É essa discussão categorizada, desagregadora, que classifico de irresponsabilidade intelectual.

Texto produzido em 31/10/2013