A segunda tortura da Dilma

Dilma Rousseff, a presidenta do Brasil, presa e torturada durante a ditadura militar, passa de novo por esse suplício. Somam-se aos seus algozes, agora, também aqueles que deveriam estar a seu lado. O que é ainda mais grave e condenável.

É como se todos, os antigos inimigos e os novos criticos, transformados em quase inimigos, se unissem para submetê-la mais uma vez à cadeira do dragão. Diariamente, ininterruptamente, através de todas as mídias, com destaque para as redes sociais.

Quanto aos velhos carrascos, nada a declarar; estão apenas cumprindo o seu papel, mesmo que dentre eles se encontre quem até poucos dias estava a seu lado como companheiro de luta, digamos assim.

O que choca e causa frustração é o comportamento de seus reais companheiros, esses que se definem como progressistas, trabalhistas, democratas, republicanos, mas confundem independência e direito à crítica com o exercício de uma verdadeira irresponsabilidade intelectual.

É fácil, para quem está aqui, na planície, apontar o dedo para as insuficiências político-administrativas do governo federal. Também é fato que o exercício da democracia — e seu aperfeiçoamento — se faz com a crítica, a pressão e o encaminhamento de propostas claras e transparentes.

Acontece que não vivemos numa democracia. Vivemos num regime caótico, individualista, em que as pessoas estão voltadas unicamente para os seus interesses, mais ainda aquelas que ocupam parcelas de poder. Transitar nesse terreno densamente minado não é tarefa fácil. Não é um jogo de xadrez, sujeito a regras previamente definidas, a ser vencido pela racionalidade.

O jogo que está sendo jogado tem suas regras refeitas a cada instante. Assim, melhor seria que seus críticos amigos parassem de ajudar a torturá-la e voltassem suas análises para os verdadeiros inimigos da democracia e suas teias de interesses, como o fizeram, por exemplo, quando da tentativa de golpe no episódio do julgamento da prestação de contas da campanha eleitoral.

Até porque, a meu ver, estão perdendo tempo, pois a tortura já não mais lhe atinge. A Dilma está calejada.

Texto produzido em 2/02/2015