Não será sem sofrimentos

Mentiras verdadeiras têm o dom de produzir reações substantivas.

Por isso, não tenhamos dúvidas de que as 'coisas' vão piorar e piorar muito nos próximos anos. Há uma devastadora inflamação no corpo social do planeta e essa doença multimilenar, sistêmica, tem de ser espremida até o núcleo duro e purulento do tumor, o carnegão.

Por favor, não confundam essa análise com uma abordagem moralista, purificadora, cristã ou religiosa de um modo geral. Bem ao contrário. Não penso que o 'fim dos tempos' se aproxima, muito menos o dia do 'juízo final'. "Sem essa, Aranha", diria o Rogério Sganzerla.

O que chegou ao conhecimento geral, o que está diante das nossas fuças é a cristalina evidência de que — oh, ironia! — estamos no tal beco sem saída. Temos nos enganado, por milênios, pensando ser possível contemporizar, contentando-nos com migalhas, agrados, com as miçangas jogadas aos nossos pés por aqueles que detêm o poder desde sempre.

Nossa ingenuidade é infantil, imatura, típica de uma espécie que reluta em deixar as comodidades da primeira infância e assumir as responsabilidades, os riscos e os frutos da maioridade.

Por isso e para isso criamos deuses. Elegemos heróis. Depositamos seguidamente nossas esperanças nas mãos de impostores sinceros e entregamos nosso futuro a tantos autoproclamados salvadores. Um dia, haveríamos de ficar fartos, saturados. Desse jeito como hoje nos encontramos.

Como anunciou Gilberto Gil ainda nos anos 1970, "O Sonho Acabou". De novo e sempre.

Torço, sim, para que nesta primeira metade do século XXI d.C. tenhamos afinal atingido a massa crítica de erros necessária a darmos um salto. Um salto para fora e além do útero. Mesmo sabendo que viver verdadeiramente é perigoso.

O caminho é o ensino da liberdade, que começa em casa. E, talvez, as 'pátrias educadoras".

Texto produzido em 10/11/2016