Aldous Huxley concedeu esta entrevista, em 1958, ao jornalista Mike Wallace.
Com perspectiva visionária, o autor de "Brave New World" ("Admirável Mundo Novo") descreveu quase tudo o que viria a ocorrer no mundo nas décadas seguintes. Só não anteviu (embora pareça ter suspeitado) que a ameaça maior para a liberdade e sobrevivência do homem não viria do Totalitarismo de Estado, mas deste Totalitarismo de Mercado que vemos deitar seus domínios sobre todo o planeta.
O Estado todo poderoso não é mais capaz de manipular as "forças impessoais" (como a superpopulação e a super-organização de empresas e de governos, segundo Huxley) e os "dispositivos tecnológicos" (como o rádio, a televisão e as técnicas de propaganda, ele apontou). "Forças" estabelecidas e "dispositivos" estes inventados ao longo dos dois últimos séculos.
Quem decide sobre os destinos das "forças impessoais" e quem manipula os "dispositivos tecnológicos" é o Mercado.
É ele, o Mercado, o ente que determina o que pensamos, o que comemos, o que fazemos, o que sonhamos, o que somos e seremos.
Vinte e quatro horas por dia. Sete dias por semana.
É ele quem põe e tira governos.
Sem que tenhamos a quem recorrer, culpar, cobrar, pois o Mercado não reside em pessoas, nem mesmo nesta ou naquela corporação transnacional. Ao inverso da realidade quântica, ele se desmaterializa no momento em que é observado. Dispersa-se. Fragmenta-se sem afrouxar seu omnipresente poder.
Não há escapatória desta trama que nossa civilização construiu e na qual estamos enredados.
Ceder a ela é, para poucos, conveniente. Conformar-se com ela é, para a muitos, frustrante. Ignorá-la é, para a maioria, um permanente sofrimento.
A única saída é o homem (re)tomar a construção da maioridade da nossa espécie.
Tomar as rédeas, assumir o ônus e o bônus de decidir sobre nosso destino.
Sem delegar essa tarefa ao Estado, como se fez até meados do século XX. E sem submeter-se ao Mercado, como vem ocorrendo desde então.
Texto produzido em 30/09/2017