Por que temem Lula?

Dizem que o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva ocupa um lugar destacado no imaginário social.

Que foi o melhor governante que este País já teve, muito além de Vargas, o "pai dos pobres", porque, junto com Dilma, proporcionou não apenas a ascensão social dos pobres (mais de 36 milhões saíram da miséria) e dos remediados (mais de 19 milhões de empregos gerados), além de ter aberto um leque de oportunidades e ganhos para os mais ricos (a começar pela ampliação do mercado interno de consumo, passando pela reativação das indústrias naval, da construção civil, etc. etc. etc. etc.).

Por que, então, todo esse ódio, essa fúria assassina contra Lula? Ao ponto de destruírem um país em apenas dois anos, apenas para que Lula e seu partido não continuassem a revolucionar por dentro o sistema podre que as oligarquias implantaram neste País, desde o Descobrimento? Ao ponto, como se verifica hoje, de colocarem em alto risco a sobrevivência da própria plutocracia?

Sim, Lula tem aquele lugar (precariamente descrito acima) no imaginário social.

Mas ele tem mais: além da admiração e reconhecimento aos seus feitos e aos de Dilma, sua sucessora, Lula desperta nas pessoas de todas as classes o medo atávico de se assumirem como seres humanos plenos, construtores de sua própria maioridade, no sentido apontado por Kant. É disso, em essência, que se trata: o ser humano Lula nos desafia porque descobriu/inventou o caminho da construção de sua emancipação.

Essa ousadia, radiofonizada, impressa, televisionada e virtualmente disseminada nos apavora, porque desafia cada um de nós a também descobrir/inventar nosso próprio e único caminho. E isto significa nos arrancar do conforto de uma vida quase contemplativa, dependente dos outros, seja esse outro um patrão, o Estado ou o sistema capitalista planetário, que, diga-se, está muito além daquilo que Marx-Engels um dia vislumbraram, pois também incorporou as experiências ditas socialistas inspiradas em suas pregações.

É complexo e simples, assim.

Ninguém quer ser igual ao Lula. Mas todos sabemos, intimamente, que o ser humano Lula, à moda de César, atravessou o Rubicão. Adentrou o âmago do grande segredo e, como tantos outros, expôs a simplicidade da árdua tarefa que está posta a cada um de nós desde o nascimento: avançar sempre.

Alguém deve saber definir um indivíduo deste tipo. Certamente não será a palavra herói, pois este habita outras esferas, enquanto Lula está aqui mesmo, entre nós, a nos provar todos os dias que suas deficiências e fraquezas não lhe servem de desculpas para se acomodar. Arrisco dizer que tal palavra é centrado.

Seres como o Lula têm um centro, uma convicção inarredável de que estão aqui a serviço do interesse geral. Não buscam aplausos, embora os recebam; não se vangloriam, embora pudessem; não se deixam paralisar diante do espelho, embora se vejam; não se intimidam, embora tantos obstáculos lhe sejam impostos.

É por isso que temem Lula.

Temem, mas dele precisam. Como estão desesperadamente precisando agora, depois que destruíram o Brasil.

Texto produzido em 17/04/2017