Os oportunistas

Estamos vivendo uma época de excepcionalidades.

E nesse ambiente em que a falta de clareza prevalece, todos os oportunismos se apresentam.
Alguns são mais danosos, pois detêm parcelas de poder e as colocam a serviço de propósitos inconfessáveis — trair os interesses de seu país, por exemplo.

Outros, embora melhor intencionados, são capazes — vejam só! — de afrouxar seus compromissos éticos em prol do projeto de seus grupos políticos, desqualificando-se, com isso, para o exercício do protagonismo que tanto pleiteiam.

Sobre os primeiros, os traidores, não há muito mais o que falar. Todos sabemos quem são e os papéis que exercem na política, nas instituições jurisdicionais do Estado, nos meios de comunicação, no empresariado, em todas as esferas públicas e privadas, enfim. Foram estes que deram o golpe parlamentar-jurídico-midiático, sustentado por interesses econômicos internos e externos, e assim destruíram o Brasil. Estes, no seu devido tempo, a sociedade condenará e a História lhes fará justiça.

O que é necessário ressaltar, neste exato momento de excepcionalidades, são os segundos.

Não me cabe personificar, mas seus discursos têm comum o seguinte raciocínio: tudo o que de bom foi feito, até agora, na verdade não passou de um paliativo para remediar aquilo que de mau sempre se fez. E, concluindo seu oportunismo, colocam-se como as únicas e verdadeiras alternativas para a retomada do passo civilizatório.

E por quê, assim agindo, esses personagens tiram suas casquinhas deste momento de excepcionalismo?

Porque tentam abolir a dialética, essa condição essencial do processo histórico.

Abolir a dialética — o que configura desonestidade intelectual — é, oportunisticamente, ignorar as condições efetivas que nos trouxeram até aqui. É simplificar a realidade. É retirar da rede de relações causa-efeito aqueles fatores que não nos convêm.

Por exemplo: é falsa a afirmação de que o ciclo do Partido dos Trabalhadores está esgotado, porque quando esteve no poder ele teria se deixado contaminar por práticas clientelistas centenárias. Isso é obliterar o fato de que os avanços sociais conquistados nos governos Lula e Dilma proporcionaram não apenas a ascensão social de milhões de pessoas, mas também e principalmente o despertar da consciência de cidadania de tantas dessas pessoas.

Se essa consciência não se traduziu em imediato e amplo amadurecimento político (tanto que houve um golpe de Estado), isto não desqualifica as ações adotadas por aqueles governos petistas. Nem justifica a desqualificação política de Lula (nem falo da perseguição midiática-judicial, obra dos oportunistas-traidores) para uma nova disputa pela Presidência da República, sob o argumento extravagante de que seu tempo já passou.

O oportunismo é sempre condenável. Seja ele de direita, seja ele de esquerda.

Texto produzido em 27/04/2017