Ignorantes, togados e perigosos

Muitos analistas já disseram (e provaram!) que esses delegados+promotores+juízes federais, reunidos em torno de uma tal força tarefa de Curitiba (e agora também de Porto Alegre, sem esquecer seus imitadores espalhados pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, etc.) são um bando de perigosos ignorantes, pois desconhecem história, política e, principalmente, filosofia.

Foram bons concurseiros, é verdade, pois superaram outros milhares de adversários, provavelmente mais ignorantes (o que é assustador!), na medíocre corrida de obstáculos representada por esses execráveis testes de múltipla escolha a que se reduziu a seleção de ocupantes de funções públicas.

Quanto à indigência filosófica dos referidos cidadãos, em particular sobre a Lógica e a Ética, rascunhei aqui uma possível explicação: Quando foi chocado o ovo da serpente, entre outros textos.

Sobre o desconhecimento histórico dessa raça, os exemplos pululam, seja nos relatórios, pareceres ou sentenças que produzem (com vergonhosa falta de domínio da Língua Portuguesa), seja nas intervenções que fazem nas redes sociais, seja ainda nas pretensiosas e bem-remuneradas palestras que proferem por aí afora, para plateias não menos primárias.

Mas aqui, hoje, quero falar da imbecilidade política desses rapazes e moças, digamos assim.
Não sou especialista nessa área (aliás, não sou especialista em nada, apenas um cidadão curioso, jornalista de profissão), mas me parece cristalino como água de boa fonte que um governo de coalizão depende, como o próprio nome indica, do apoio de vários partidos, muitos deles com propostas até divergentes.

Isto não é uma exclusividade brasileira. Em todo mundo é assim, quiçá no Universo.

Se um governo democraticamente eleito não possui maioria para aprovar as medidas que o levaram ao poder, ele cede parte desse mesmo poder a outros partidos, com o objetivo de reunir os votos de que precisa nas casas parlamentares. Quase nunca as coalizões se dão pelo mesmo lado ideológico, embora isto fosse o ideal. Na prática, o que ocorre são coligações com partidos ditos fisiológicos, que existem para isso mesmo: negociar apoios.

Isto é do jogo político. Sempre foi. Sempre será (até que, um dia, não precisemos mais de partidos, de governos, de delegados, de promotores e de juízes).

E o que acontece num governo de coalizão?

Simples, o governante entrega cargos de primeiro escalão aos partidos coligados que, por sua vez, distribuem cargos de segundo, terceiro e quarto escalão aos seus grupos de apoio. Diz-se que na administração federal brasileira existem 757.158 cargos, além dos milhares de empregados de empresas estatais, fundações, etc.

Digamos que apenas 10% dos ocupantes de cargos públicos conquistados mediante coligações detenham o poder de propor investimentos, elaborar projetos, gerenciar licitações, negociar e assinar contratos de obras e serviços. Já serão alguns milhares. E todos agindo com relativa autonomia, muitas vezes à margem do controle do chefe do governo que ali os colocou, direta ou indiretamente.

Isto quer dizer que o governante é chefe de uma organização criminosa?

Claro que NÃO, imbecis!

Se assim fosse, todos os governantes, de todos os tempos, em todas as nações seriam (e serão) chefes de organizações criminosas.

Já se disse que a Democracia paga um preço. E este é o de estar em permanente evolução, no passo do amadurecimento da espécie humana, e não na dependência de qualquer voluntarismo. Seja ele sustentado pela força da retórica, pela força das armas, ou pela força da toga.

Todas essas são igualmente totalitárias, fascistas, perigosas.

Vamos ver o que acontecerá no Brasil...
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A propósito, sugiro a leitura deste importante texto de Mauro Santayana: O caso Lula - De pretores e de vigiles.

Texto produzido em 20/01/2018