Ela foi apenas conivente. Simples assim

Algumas pessoas têm especulado em torno de um pretenso mistério: por que a sra. Ruth Cardoso, mulher inteligente, moderna e, diz-se, praticante do feminismo, manteve-se submissa frente às traições conjugais de seu marido, o sr. FHC?

O conformismo conjugal da sra. Ruth não me causa surpresa. O verdadeiro feminismo tem um caráter libertador, conferindo à mulher os mesmíssimos direitos do homem, sem qualquer sentido de posse entre eles.

Sartre e Simone de Beauvoir, por exemplo, eram assim, dizem seus biógrafos: companheiros intelectuais, amantes, mas seres humanos para tudo independentes. Nesse sentido mais puro do feminismo é que se compreende o silêncio altivo da sra. Ruth.

O que se deplora, no entanto, não é sua atitude feminista estrita. Não é essa a questão principal. O que importa questionar é por que a sra. Ruth, pessoa crítica, compromissada com a ética — como se exige dos verdadeiros intelectuais — foi capaz de ser cúmplice, até o fim, de uma carreira política assentada numa hipocrisia associada a alguns crimes.

Sim, porque estar inserido numa sociedade moralista e esconder do julgamento dessa mesma opinião pública conservadora o fato de que você pensa e age de forma diferente é ser hipócrita (aquele que finge o que não é, diriam os dicionários). E isso é uma desonestidade intelectual.

Lula, que provavelmente não pratica o feminismo nas suas relações com a sra. Marisa, foi vítima desse conservadorismo na eleição presidencial de 1989.  Ele perdeu a eleição por causa, inclusive, do Caso Lurian (a filha de quem poucos sabiam), cuja existência foi 'denunciada' pela campanha de Collor.

Já o sr. FHC fez pior, porque teve um filho fora do casamento, escondeu-o e participou de uma trama internacional para afastar a amante indesejada, de modo que ela não atrapalhasse a campanha de sua contestada reeleição à Presidência. E a sra. Ruth, quieta. Talvez atormentada, mas, enfim, quieta.

Não há mistério na submissão-silêncio da sra. Ruth Cardoso quanto às traições conjugais e crimes associados de seu marido, o sr. FHC. Ela foi apenas conivente.

Texto produzido em 25/02/2016