"Do que se fazem as salsichas" - Capítulo XVII

É impossível cavalgar o Caos.

os tolos pensam o contrário. No exercício vulgar da nossa existência, somos muitas vezes abalados por situações a que denominamos “caóticas”. E contra elas buscamos (ou não) atuar, pensando poder conduzir suas variáveis e aquietar a tormenta.

A (sempre) repetida frustração desse propósito, que possui cunho moral-religioso, já deveria nos ter convencido quanto ao tamanho e a complexidade das forças envolvidas no processo em que estamos inseridos.

Zombo, intimamente, da soberba desses homens públicos que, neste exato instante dominam a cena política brasileira (isto para nos atermos exclusivamente aos nossos chinelos, pois a situação não é diferente em outras latitudes e longitudes...).

Vejo o quanto esses homens sopram seus ventos, os ventos possíveis de serem soprados pelos poderes que circunstancialmente exercem (mas não dominam), e constato o quanto se iludem a respeito dos resultados que projetam.

os tolos pensam ser possível cavalgar o Caos. Seria como se as forças que o originam e o material de que se compõe o furacão pretendessem conter seu próprio ímpeto e determinar seus efeitos. É impossível. Não há Caos controlável. Há este Caos em que estamos integrados. E ponto.

Quando a Humanidade passou a criar profissões, atendendo às necessidades objetivas de sua evolução social, consolidou-se a figura do historiador, o que pesquisa o passado social e registra suas descobertas.

Menos nefasto do que o jornalista (pois este trabalha com dados ainda fluídos e, mesmo assim, produz deduções peremptórias), o historiador sente-se na obrigação de adicionar conclusões não necessariamente completas e corretas aos seus registros. E este é o seu maior pecado profissional. Sim, porque são essas conclusões históricas que cristalizam a ideia errônea de que se pode cavalgar o Caos. A ideia de que o Caos é um momento, um lance a ser, com alguma astúcia, superável, na presunção de que em algum momento do passado estudado ele tenha sido cavalgado.

Não. Ao contrário. O Caos é a condição imprescindível do Cosmos. Os momentâneos arranjos que se produzem, aos quais denominamos Ordem, são, na verdade, sementes/combustíveis do, desde sempre, permanente furacão. Uma vez aberta a caixa de Pandora, as maldades do mundo perdem seus freios e seguem seu curso de destruição.

No planeta inteiro está sendo assim: EUA e Europa, em especial, encontram-se sob ataque de extremistas anticivilização, cujo derradeiro objetivo é criar (ainda que a maioria de seus agentes não se dêem conta disso) as condições materiais e políticas para que este planeta se torne propriedade exclusiva da casta dos chamados “1%”.

O raciocínio dessa gente é simples: se os recursos da Terra não comportam o nivelamento por cima da qualidade de vida dos 7/8 bilhões de seres que hoje a habitam, é preciso reduzir drasticamente essa população, seja através da deflagração de guerras convencionais entre países periféricos, da disseminação de doenças a selecionados grupos genéticos e de classe, da promoção de genocídios de toda espécie, da negação do desastre ecológico em pleno andamento etc. etc. etc.

Esta é a agenda em curso. Dela é que decorre o ambiente caótico em que estamos vivendo. Sob a ótica das neocastas o Comunismo (o verdadeiro, não o Totalitarismo de Estado) é um sistema perigoso, pois, na essência, visa construir o bem comum, a distribuição equânime de justiça, de oportunidades e de riqueza. Num planeta a ser reservado a poucos, atendidos estes por segmentos definidos e controlados de prestadores de serviços, para que serve o Comunismo?! Nem mesmo a pobre Democracia eles admitem...

Engana-se, também, quem pensa que a procura por uma alternativa à Terra e o desenvolvimento de tecnologias espaciais capazes de transportar terráqueos a esse possível planeta, num futuro, se destina a encontrar uma saída para a humanidade, tal qual ela é hoje.

Não, o objetivo da nova corrida espacial em curso, agora patrocinada pela iniciativa privada, é exclusivamente elitista. Trata-se de oferecer uma opção de sobrevivência a quem possua os recursos para pagá-la, caso a primeira alternativa (a das neocastas terrenas) venha a fracassar.

No Brasil, de forma cristalina, o fenômeno da multiplicação e disseminação do mal tem se revelado evidente, em especial a partir do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, consumado em 2016 mas construído desde três anos antes, quando a cobiça pelo pré-sal (a maior reserva de hidrocarbonetos encontrada nos últimos tempos, descoberta no litoral brasileiro pela Petrobras) trouxe a guerra híbrida para o nosso país. O grande jogo está sendo jogado. E, no entanto, não percamos a esperança nunca, pois a dialética do Caos é incontrolável.


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