Às vezes me perguntam como definiria meu trabalho, tanto o dos livros — A primeira lição a aprender —, quanto este que publico aqui regularmente, e que na verdade se trata de analisar as mesmas ideias dos livros, sob diferentes aspectos e realidades. Sinceramente, ou talvez por ignorância, não sei em que categoria encaixar essas reflexões.
Sem assumir ares de presunção intelectual — até porque reivindico a todos os seres humanos, mais do que o direito, o dever de pensar e expor suas opiniões —, arrisco dizer que minhas balizas são a antropologia (o estudo do ser humano em todas as suas vertentes) e a cosmologia (o estudo da totalidade dos fenômenos no universo). Entendo o ser humano como um indivíduo que pertence à Terra, mas integra o Cosmos — e vice-versa.
Não se tratam de filosofia, essas ideais, disso tenho certeza. E nem me interessa que assim sejam entendidas, pois contra as imposições dessa ou daquela corrente filosófica é exatamente onde me coloco. Não que despreze o amor à sabedoria, mas porque quero estar longe da mitificação do saber; distante do exibicionismo teórico; e, principalmente, em oposição à ideia de que o saber se destina a poucos eleitos.
Sabedoria não é, e não pode ser, algo que se deva conquistar, possuir e, eventualmente, compartilhar com selecionados ouvintes e iniciados. Sabedoria é alcançar e desenvolver a capacidade de desvelar caminhos e apontar modos através dos quais todos os indivíduos, absolutamente todos, estejam aptos a amá-la e praticá-la, porque ela está (ou deveria estar) presente em cada instante de nosso cotidiano. Sabedoria é compreender e trazer à luz as potencialidades da mente humana; não é uma condição egoísta, mas um exercício de permanente deslumbramento e generosidade.
O problema, o verdadeiro problema com o qual nos debatemos em nosso cotidiano é a dificuldade de alcançarmos a compreensão dessa capacidade intrínseca à nossa espécie — a de amar e praticar a sabedoria, e de fazê-lo não de forma eventual, irrefletida, episódica, mas de modo consciente, intencional e permanente. É nesse espaço que, julgo, venho refletindo.
Penso que o único meio de nos apoderarmos da referida compreensão (amar e praticar a sabedoria) é entendermos a dupla e coexistente condição de sermos integrantes deste planeta e pertencermos ao Cosmos. Os modos e os meios para a realização dessa tarefa fundamental já estão dados. Abordo isso em vários textos aqui publicados, como em Nosso primeiro passo.
O dia em que esse entendimento for apropriado não por meia dúzia de ‘filósofos’, mas pela maioria e depois pela totalidade dos habitantes desta Terra, a partir desse instante nossa espécie terá uma chance de harmonizar a via do prosseguimento (esta que busca minorar todas as nossas carências físicas e materiais, e que perseguimos em nosso dia a dia, desde sempre) com a conquista compartilhada do saber. E, então, verdadeiramente, amar e praticar a sabedoria.
Em resposta às alegações de que ‘isso tudo é apenas ingenuidade’, recorro à maior e melhor prova do que defendo: os indivíduos que, mesmo não possuindo o status de filósofos, são sábios e inspiradores naquilo que fazem, porque exploram o máximo de suas potencialidades. Para o bem, ou para o mal (sim, porque o mal deliberado, decorrente da corrupção da humana empatia, também pode ser exercido com sociopática perfeição).
Sugiro no primeiro caso, por exemplo, que se ouça essa seleção de João Gilberto, um ser que, como tantos outros, soube valorizar sua passagem por esta Terra, e com essa sabedoria produziu o melhor que seus dons lhe permitiram, tornando-se, a seu modo, universal. Os exemplos disruptivos (melhor assim dizer, ao invés de defini-los como “maus”) são muitos, e exatamente aqueles que queremos combater.
A escrita é a grande invenção. Foi a escrita, na verdade, aquilo que transformou um certo ser irracional em humano, esta espécie que domina o planeta para o bem e para o mal. Com a escrita, apenas, este blog se propõe a analisar e opinar sobre alguns dos principais temas da atualidade, no Brasil e no mundo, como qualquer cidadão faz ou deveria fazer. Meu nome é Oswaldo de Mello. Sou jornalista.