‘Eu não quero descer’

Ao analisarmos o quadro ora vigente de emergência planetária — que se traduz no crescimento da insegurança social produzida por uma série impressionante e convergente de fatores, envolvendo o agravamento da luta geopolítica, da xenofobia, desigualdade socioeconômica, decadência do ensino, precariedade laboral, ausência ou insuficiência de serviços básicos, violência pública, criminalidade privada, transtornos neurológicos, distúrbios e doenças mentais, tudo se dando no interior de um ecossistema dominado por extrema corrupção e inegável incompetência —, ao analisarmos esse quadro temos a sensação de que chegamos a um momento de inflexão civilizacional.

Concretamente, é isto mesmo o que está em curso.

É fato que o acelerado decaimento da qualidade geral da vida drena nossas forças, contamina nosso núcleo familiar, projeta-se para nossa rede de relacionamentos e ao conjunto da sociedade, de onde retorna, como um bumerangue, para retroalimentar e potencializar negativamente o mesmo sistema já degradado. Não é pouco o que os 8,2 bilhões de habitantes da Terra estamos enfrentando neste exato instante.

Para nosso conforto, se é possível assim definir, não há nenhuma surpresa sobre o que se passa na Terra — trata-se apenas de um processo de transição, de transformação, de evolução, enfim. Isto não diminui os sofrimentos presentes e futuros, pessoais e coletivos, mas pode nos ajudar a assimilar o entendimento, sempre necessário, de que integramos o Cosmos. Sim, o Cosmos! E, ainda que cause estranhamento ou suscite deboche, proveniente das mentes ditas racionais, a explicação para o que ocorre na Terra vem da Astrologia. 

Não, evidentemente, “a pop astrology, como ela aparece em jornais e em muitos livros sobre ela publicados, mas com o que ela nos oferece desde tempos muito remotos como legado praticamente encontrado em todas as culturas, desde a pré-história, abandonado, por pressões dos representantes da ‘racionalidade’, pelas academias no séc. XVII. Nem tem a ver com a afirmação de pessoas que peremptoriamente declaram nela não ‘acreditar’, como se ela fosse uma religião, ainda que dela nada conheçam. A Astrologia, uma carta astral, nesta perspectiva, por exemplo, se parece com um hemograma [análise laboratorial dos elementos do sangue]. Não ‘acreditamos’ num hemograma; apenas sabemos lê-lo ou não. E mesmo sabendo lê-los, os hemogramas, quantos erros não se cometem na interpretação de seus dados?”

O esclarecimento acima é do amigo e sempre mestre Cid Marcus, falecido há três anos — a quem sempre recorro —, um cara que se dedicou ao estudo “sério” da Astrologia. Em um de seus textos — Os salões do séc. XVIII —, ele discorre sobre os sinais da aproximação deste momento de transição (para a Era de Aquário), na qual a humanidade finalmente ingressará em 2.672, daqui a 647 anos.

Preparem seus corações e mentes, caros amigos, pois o que já vem se impondo é de fato uma grande mudança:

“Urano [regente de Aquário] é essencialmente um planeta variável, eletromagnético, espasmódico, intuitivo, impulsivo, excêntrico, pioneiro, independente, súbito, político, comunitário, excitante, maníaco [no sentido grego de ‘estado de loucura’], explosivo, convulsivo, revolucionário, brutal, anárquico, incongruente, individualista, diferente (vedetismo), associativo, futurista, utópico, original, inédito e estéril.

“No século XVIII [quando esse processo já apresentava seus sinais], a verdade das religiões, tida como revelada, começou, por inspiração uraniana, a ser substituída por propostas filosóficas pragmáticas. A atitude, diante do mundo, começou ser inspirada pela empiria. Mesmo com todas as suas tâtonnements [tentativas e erros], como diziam os franceses, o conhecimento deveria derivar agora da experiência humana e não da revelação divina. (…) Na política, as lutas de independência de várias colônias foi um desses sintomas.

“Hoje, na ciência, temos a inteligência artificial”, as redes sociais globalizadas, a computação quântica, a robótica associada à IA etc. etc. “No campo filosófico-religioso, o fim da filosofia, o transumanismo [uso da tecnologia para superar as limitações humanas, tanto físicas quanto intelectuais] e o fim de Deus e das religiões (profecia de Nietzsche), estas oferecendo uma grande resistência, diante dos altíssimos lucros que obtêm.”

Nosso desespero civilizacional é que “o mundo aquariano nos permite obter uma quantidade cada vez maior de informações, mas talvez nunca tenhamos nos deparado com tanta falta de conhecimento e muito menos de sabedoria quanto hoje, estes dois [conhecimento e sabedoria] a serem construídos por nós a partir daquelas [informações]. A velocidade e o alcance da nossa comunicação é espantosa, enorme, mas a solidão e a depressão aumentam cada vez mais. Enquanto isso, orgulhosamente, a ciência aquariana vai nos dando condições de visitar todo o sistema solar, de colonizar alguns planetas e de explorar a nossa galáxia." 

“Pare o mundo, que eu quero descer!”, me disseram outro dia.

Entendo o desespero, mas confesso que eu mesmo “não quero”.