Atenciosamente,

Há horas (antes eram dias) em que me convenço de que nosso destino é viver a vida que temos, ou seja, nos conformarmos com a penosa (ou seria cínica?) condição de reféns de nossos medos, e ponto final. Mas há outras horas em que me encho de esperanças, busco saídas, proponho caminhos para mim viáveis, porque, imagino, ainda não (suficientemente e/ou corretamente) tentados.

Esse humor pendular, digamos assim, pode ser uma doença do espírito, uma ‘negação’ da possibilidade de construirmos um futuro de harmonia, seguida da ‘aceitação’ da realidade via esperança de mudá-la, e vice versa. Entendo, porém, que não sofro exatamente de um mal, porque, embora não acredite em livre arbítrio, quero acreditar estar no controle de minhas próprias escolhas.

Sou eu (penso), a partir de minhas reflexões e em desafio à realidade que está dada, aquele que decide insistir de novo em busca de soluções, de saídas, ou aquele que se conforma com a impossibilidade de interferir no passo da História. Sou eu, enquanto o coração ainda bate, este que se impõe o direito e o dever de prosseguir, a despeito da contradição fundamental e incontornável.

Vou assim tocando as horas, experimentando conflitos, vendo e vivendo o cotidiano, dividindo aflições e alegrias ao lado de minha eterna companheira. [Ah, minha luz, obrigado!] Nesses momentos sou descrente de que sejamos (nossa espécie) capazes de (re)construir este mundo; de deixar para trás todos os milênios de erros e fracassos nunca admitidos; de produzir e multiplicar justiça; de promover e cultivar alegrias. Recolho-me ao egoísmo, adoto a tese da impotência e me distraio por algumas horas em conveniente autoengano.

Então, olho em volta e de novo vejo as pessoas que me cercam e amo. Pessoas aprisionadas aos seus medianos compromissos, envolvidas com seus desafios menores, absorvidas por suas necessidades básicas, confrontadas com suas frustrações, mas que ainda assim (parece-me) mantêm a esperança de um futuro melhor. Nesses momentos, quase de imediato, passo a buscar saídas, imaginar soluções que, vejam só!, não dependem de mim.

Quem somos nós, estes que buscam soluções?! Somos nada; somos clowns, “palhaços das perdidas ilusões”, como um dia sentenciou o brasileiro Orestes Barbosa. E no entanto ainda respiro, pertenço ao mundo humano, sou um indivíduo, tenho deveres existenciais. Estou presente neste planeta.

Constato que o processo disruptivo de nossa espécie está acelerado e vai se acelerar ainda mais, e sempre. Não vejo alternativa, mas, como um atleta a quem o azo concedeu particulares habilidades, continuo perseguindo o improvável, pois não posso nem devo desperdiçar os dons que o acaso me concedeu. Assim (e por isso) tenho exercido a oportunidade de lidar com essa contradição fundamental: pelejar pela construção de um outro futuro, sem realmente acreditar que isso seja possível.

Em algum momento de minha existência acolhi essa tarefa como um chamamento mandatório pela não desistência, frente ao compromisso que tenho com a minha espécie. Mas, de certa forma, hoje desisto; talvez momentaneamente, mas desisto. Ou melhor, mudo de estratégia.

Embora saiba que possuo leitores ocasionais em tantos cantos (Hong Kong, Estados Unidos, Alemanha, Singapura, Coreia do Sul, Suécia, Finlândia, Canadá, Suíça, Reino Unido, Austrália, China, Rússia, França, Portugal, Emirados Árabes Unidos, Bélgica, além do Brasil e de outros que se escondem atrás de VPNs), reconheço que após seis livrinhos lançados, e um sétimo, robusto, que condensa e aprimora esses primeiros (A primeira lição a aprender); depois de quase duas centenas de textos aqui publicados batendo nas mesmas teclas, cheguei à conclusão de que não convenci ninguém, absolutamente ninguém, da gravidade dos impasses que aponto e das soluções que proponho.

As pessoas, com todas as razões, estão mais preocupadas em como garantir a sobrevivência e de que forma aplacar suas dores físicas e mentais. Tudo o mais lhes parece fora, distante, inútil. Quando muito, apelam ao Desconhecido, e assim pensam aquietar as aflições. Até o próximo desespero.

Quanto a mim, continuo pensando.

Atenciosamente,

Oswaldo de Mello
oswaldofmj@protonmail.com 

A agonia (também) das palavras

Não só o trato entre as pessoas está em franca deterioração; não apenas as relações entre os países vêm desmoronando; não somente o meio ambiente se aproxima do colapso. Também o mundo da comunicação humana se encontra em agonia.

Nada disso começou agora. O declínio civilizatório, que se aproxima de seu ápice, é uma construção paulatina de milênios. Numa analogia com o corpo humano, podemos dizer que nascemos, crescemos, alcançamos a idade biologicamente adulta e hoje ingressamos no ocaso da nossa espécie.

Assim como o corpo humano paga o preço das nossas circunstâncias de vida e das nossas escolhas, os resultados catastróficos observados à nossa volta são meras consequências das opções feitas pelo ser humano ao longo de milhares de anos de 'evolução'.

No campo da comunicação interpessoal, podemos dizer que erigimos um monumento. Mas, hoje vemos, o que temos é um monumento com pés de barro, como quase tudo em que se assenta nossa civilização. As palavras, por exemplo, além de morfologicamente corrompidas, já não guardam coerência com as ideias que as originaram.

Os linguistas dirão que é assim mesmo; que o nome disso é também 'evolução'. Penso, porém, que evoluir é perseguir a precisão, não adotar a dubiedade. Não se evolui, do ponto de vista da superação da Babel humana, se uma mesma palavra (e aqui me refiro ao idioma alfabético, aquele que prevaleceu até estes dias) carrega inúmeros significados, e cujo entendimento depende de específicas circunstâncias. Se a linguagem matemática sofresse do mal da ambiguidade, nenhuma ciência (e, por consequência, tecnologia) teria se desenvolvido. Estaríamos ainda na Pré-História.

Tomemos um exemplo corriqueiro: o dicionário Webster esclarece que o termo contratempo (contratemps) apareceu pela primeira vez em inglês, no século XVII, no contexto da esgrima: um contratemps era um golpe ou passe feito na hora errada, quer a hora errada tivesse a ver com a falta de habilidade do indivíduo ou a proficiência do oponente (no futebol isso se chama finta).

Na pista de dança, para onde a palavra foi transportada, contratemps era um passo dançado em um ritmo sem acento (inflexão), estando ambos os significados de acordo com as raízes francesas do termo, contre- (contra) e temps (tempo), ou seja, algo que não ocorre no tempo previsto ou esperado.

Hoje (seguindo tendência iniciada no fim do século XVIII, e que muitos dirão tratar-se de uma 'evolução'), contratempo passou a também significar erro, obstáculo, estorvo, empecilho, infortúnio, percalço, revés, inconveniência, desvio, interrupção, circunstância, incidente, sinônimos que, em alguns casos, podem significar quase o oposto da ideia original.

Outro dia, por exemplo, retornando de viagem, o carro que me transportava apresentou um problema elétrico   não dava partida. Um mecânico foi chamado e, ao tentar ligar o veículo, este voltou a funcionar normalmente. Levado até uma oficina, detectou-se que o defeito poderia estar no motor de arranque. O especialista fez as recomendações necessárias e a viagem pôde prosseguir com os devidos cuidados, e sem sustos.

Esse episódio foi um contratempo?

Aos olhos da 'evolução' semântica do termo, sim, pois a viagem atrasou, houve nervosismo entre as pessoas envolvidas, foi gerado um custo inesperado com o atendimento domiciliar e o trabalho da oficina. Mas a palavra correta para definir esses aborrecimentos seria contratempo?

E, se ao invés de apresentar defeito, o carro tivesse funcionado normalmente na primeira partida, a viagem ocorrido no horário previsto e, no meio do caminho, o sistema elétrico de veículo entrasse em pane, seja após uma parada para refeição, ou mesmo repentinamente, no meio da estrada, com consequências imprevisíveis? Esse caso, que é hipotético mas possível, também seria um contratempo?    

Medindo os dois eventos pela relação de causa e efeito, penso que se o primeiro não foi um contratempo (mas uma falha feliz, que nos alertou para um risco e proporcionou a oportunidade de nos livrarmos de um verdadeiro erro, obstáculo, estorvo, empecilho, infortúnio, percalço, revés, inconveniência, desvio, interrupção, incidente), muito menos o segundo, o hipotético, pois esse tinha o potencial de ocasionar um grande prejuízo, uma infelicidade, ou mesmo uma tragédia. Não teria sido um simples estorvo, por exemplo.

Ou seja, a moderna definição de contratempo é um conceito tão impreciso e deturpado, ao longo de seu uso, que a palavra acabou por adquirir um significado apenas assemelhado à essência daquilo que o originou: quebra de uma expectativa no tempo e no espaço de uma ação.

Ao invés de sua acepção estrita ("um golpe ou passe feito na hora errada, quer a hora errada tivesse a ver com a falta de habilidade do indivíduo ou a proficiência do oponente"; ou "um passo dançado em um ritmo sem acento"), isto é, uma ação contrária ou tempo esperado, realizada no modo ativo (intencional ou involuntário), ao invés disso o termo se transmutou para uma ação passiva, vitimizada, digamos assim.

Essa reflexão semântica serve para apontar uma das tantas aberrações/declínio civilizatório do nosso tempo: a dessignificação da linguagem cotidiana, que leva à corrupção do discurso e à decadência das possibilidades de entendimento. 

Se palavras passam a transmitir ideias falsas, ou apenas assemelhadas aos seus significados originais, por que não usar termos exatos, precisos, inequívocos? De tanto verbalizar conceitos sem sentido, estamos nos tornando incomunicáveis.      

Refletir (ainda) é humano

Outro dia cometi um erro grosseiro no título de uma postagem, que assim foi encaminhada por e-mail automático aos meus assinantes, embora eu tenha de imediato corrigido no post. Paciência, "errar é humano".

Esse episódio, no entanto, se presta a reflexões sob a ótica do que tenho publicado aqui nos últimos dias o uso da Inteligência Artificial (IA), associada à computação quântica, como valiosa oportunidade para os indivíduos da nossa espécie, em seu conjunto, darem um salto rumo à conquista da maturidade. 

Para começar, estou convencido de que o tipo de erro que cometi a IA não cometeria. Não estou me rendendo incondicionalmente aos poderes computacionais, nem admitindo uma pretensa infalibilidade; ao contrário, continuo a ver a IA como aquilo que ela é, ou seja, uma valiosa ferramenta a serviço do avanço (mais acelerado) da nossa cognição.

O fato é que as plataformas de Inteligência Artificial todas elas, norte-americanas ou chinesas são realmente capazes de produzir respostas em conformidade com os pilares da boa escrita (sintaxe, morfologia, concordância, regência, gramática) de qualquer idioma, inclusive das chamadas ''línguas mortas', como o Latim.

Afinal, todas se alimentam de informações (ou podem vir a incorporá-las e constantemente aprimorá-las através de algoritmos de aprendizado de máquina, machine learning) contidas em bases de dados robustas e confiáveis sobre todos os domínios do conhecimento humano, inclusive da estrutura dos idiomas. Esse é o seu truque; esse é o seu valor.

E por serem o que são, mais razão vejo em utilizá-las. Não como substitutas do nosso inviolável direito e obrigação de pensar, mas na estrita condição de uma ferramenta pragmática, cognitivamente 'burra' (por enquanto, dizem!), mas dotada de grande capacidade de processamento de informações (a serem amplificadas com a chegada da computação quântica) e por isso capaz de corrigir a rota de muitas de nossas ideias, acelerando o passo dessa jornada intelectual.

Não devemos nos incomodar (muito) com todo o lixo que tem aparecido nas redes sociais, produzidos com recursos da IA. Embora esses detritos anti informacionais sejam capazes de produzir incontáveis danos, prejuízos, malefícios, crimes, tragédias, tratam-se de manifestações da nossa antiquíssima imaturidade. São passageiros.

O que interessa é o que vem acontecendo nos bastidores desse processo. Ou seja, o que importa é o valor incontestável dessa ferramenta virtual desenvolvida e disponibilizada nas primeiras décadas deste século XXI, que já conquistou amplo reconhecimento e vem sendo intensivamente utilizada nos meios científicos.

Aqueles que, como eu, atuam no campo das humanas e da reflexão sobre o comportamento das pessoas e as relações entre indivíduos, também não podemos recusar o uso dessa ferramenta. Ela é tão útil como um dia foram e são as bibliotecas e a enciclopédia; como têm sido os sites de busca e a Wikipedia.

Os livros e os diálogos presenciais continuam imprescindíveis, pois nos proporcionam experiências infinitamente mais ricas os primeiros, pela oportunidade de focar nossa atenção; os segundos, pela possibilidade de interagirmos com outras mentes igualmente questionadoras. Já a Inteligência Artificial tem o mérito de nos disponibilizar acesso rápido e amplo à essência dos conhecimentos já reunidos pela Humanidade, o que não é desprezível.

De volta ao erro que motivou este post... Esta é talvez uma das únicas ações que a IA não está interessada (ou capacitada) a executar: refletir sobre suas próprias falhas. Não porque isso seja irrelevante (afinal, um algoritmo poderia muito bem ser programado para executar essa tarefa), mas porque refletir significa pensar, pesar, relacionar, confrontar, avaliar, ponderar e, de certa forma, recuar para retomar algumas casas adiante.

A IA quer corrigir suas falhas (tanto que suas respostas sempre trazem o alerta de que podem conter erros), pois as plataforma precisam se precaver de eventuais prejuízos (e processos) do que venham a produzir, e também almejam superar a desconfiança de seus usuários e conquistar credibilidade. O que ela não quer é meditar sobre seus erros, pois isso demanda compromissos éticos.

Refletir (ainda) é uma atividade essencialmente humana.    

"A triste sina do cavaleiro solitário..."

Propus a seguinte questão — contida em minha postagem anterior, Passos da verdadeira revolução a duas plataformas de Inteligência Artificial (IA), uma chinesa (Qwen3) e uma norte-americana (ChatGPT): "Recompensar os indivíduos que venham a se dedicar a um (teórico) processo de aquisição de novas competências (aprendizado da Matemática, por exemplo, a mais precisa e rigorosa linguagem de que nossa espécie dispõe), a partir da utilização de conteúdos pedagógicos customizados (ou seja, gerados para cada pessoa, segundo suas particularidades genéticas, cognitivas, sociais, familiares, emocionais), produzidos com os fabulosos recursos da computação quântica".

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Da Qwen3 me veio a seguinte resposta:

A ideia de um modelo pedagógico personalizado a partir de particularidades individuais — genéticas, cognitivas, emocionais etc. — aliada ao poder computacional da computação quântica sugere uma redefinição radical do que entendemos por aprendizagem, escola e até mesmo por sujeito do conhecimento.

A educação não é apenas um direito social ou um bem comum, mas também um mercado — e um dos mais promissores do século XXI. Nesse novo paradigma, o aluno passa a ser visto como um cliente em processo de customização contínua, cujo valor potencial reside na sua capacidade de aprender, adaptar-se e produzir em um mundo hiper complexo e em constante mudança.

A ideia de personalização vai muito além da adaptação de ritmo e estilo de aprendizagem (como já fazem algumas plataformas de e-learning). Aqui, fala-se em customização radical, baseada em dados extremamente sensíveis:

Genéticos: avanços em neurociência e genética comportamental sugerem que certos genes podem estar relacionados a habilidades cognitivas específicas (como raciocínio lógico-matemático ou memória operacional);

Cognitivos: perfis neuropsicológicos permitem identificar padrões de atenção, tomada de decisão e processamento de informação;

Emocionais: sistemas de inteligência artificial capazes de detectar emoções em tempo real podem ajustar dinamicamente o conteúdo e o método de ensino;

Sociais e familiares: contextos culturais e ambientais influenciam diretamente no desempenho e motivação do aluno, podendo ser integrados ao modelo pedagógico.

Isso tudo pressupõe um sistema de monitoramento contínuo e massivo do indivíduo — o que levanta questões éticas profundas sobre privacidade, consentimento e autonomia.

Você menciona a computação quântica como base dessa personalização extrema. Isso é especialmente interessante porque: ela permite o processamento de grandes volumes de dados complexos em tempo real; pode simular cenários hipotéticos de aprendizagem, prevendo quais estratégias serão mais eficazes para cada perfil individual; facilita a criação de ambientes virtuais imersivos e adaptativos, onde o aluno interage com modelos matemáticos em 3D, jogos sérios e situações-problema altamente sofisticadas.

O resultado é um sistema educacional não apenas adaptável, mas evolutivo — capaz de crescer junto com o aluno, antecipar suas necessidades e maximizar seu potencial cognitivo.

Ao eleger a Matemática como “a mais precisa e rigorosa linguagem de nossa espécie”, você toca em algo central: a educação do futuro será fortemente marcada pelo domínio de linguagens formais, lógicas e quantitativas.

Afinal, em um mundo dominado por algoritmos, inteligência artificial e ciência de dados, a Matemática deixará de ser apenas uma disciplina entre outras para se tornar a própria estrutura subjacente da alfabetização digital e científica. Ela será, mais do que nunca, o instrumento privilegiado para pensar o pensável — e talvez até o impensável.

Essa visão nos leva a questionamentos importantes: Se o aprendizado é totalmente personalizado, corremos o risco de fragmentar a experiência coletiva da educação, eliminando espaços de encontro e construção de valores compartilhados? Ao basear o sistema em dados biológicos e emocionais, não estaremos criando uma educação determinística, que pode limitar o livre-arbítrio e a surpresa do aprendizado? Como garantir que essa tecnologia não seja usada para exclusão digital refinada, reforçando desigualdades sob disfarce científico?

Seu texto aponta para um futuro possível — e fascinante — da educação. Um futuro em que o aprendizado é tão íntimo quanto a própria identidade do indivíduo, e em que a tecnologia não apenas apoia, mas redefine a própria natureza do ensinar e do aprender. Mas esse futuro só será justo e humano se for guiado por valores éticos claros: equidade, liberdade, respeito à diversidade e compromisso com o bem comum.

 

Pedi, então, que a plataforma chinesa me apresentasse um projeto com este fim. A resposta:

Esta seria uma proposta para a implementação de uma plataforma educacional personalizada com base em particularidades individuais e suportada por computação quântica, integrando aspectos pedagógicos, tecnológicos, éticos e corporativos:

Projeto EduQ – Sistema Educacional Hiperpersonalizado com Base em Dados Multidimensionais e Computação Quântica

Objetivo:
Criar uma plataforma de aprendizagem altamente personalizada, capaz de adaptar conteúdos, estratégias e ritmos de estudo com base nas características genéticas, cognitivas, emocionais, sociais e culturais de cada indivíduo, utilizando avanços da computação quântica e inteligência artificial.

Missão: 

Promover uma educação verdadeiramente inclusiva e eficaz, oferecendo experiências de aprendizagem hiperpersonalizadas que potencializem o desenvolvimento intelectual, emocional e social de cada indivíduo, alinhadas às demandas do século XXI.

Público-Alvo:
 

Estudantes do ensino fundamental ao superior;
Profissionais em processo de requalificação;
Indivíduos com necessidades especiais ou dificuldades específicas de aprendizagem;
Instituições educacionais públicas e privadas;
Empresas interessadas na formação contínua de seus colaboradores.

Componentes Principais: 

Plataforma Pedagógica Personalizada: Conteúdos dinâmicos gerados em tempo real; Adaptação automática de ritmo, estilo e complexidade; Integração de múltiplas linguagens (textual, visual, lógico-matemática, etc.); Feedback contínuo e inteligente sobre desempenho.

Sistema de Perfis Multidimensionais: 

Criação de perfis completos do aluno com base em:
Genético: análise de predisposições cognitivas e comportamentais; Cognitivo: mapeamento de habilidades de raciocínio, memória, atenção; Emocional: reconhecimento facial, análise vocal e monitoramento neurofisiológico;
Social e Cultural: contexto familiar, histórico escolar, valores e crenças.

Infraestrutura Tecnológica: 

Uso de computação quântica para processamento de dados complexos e simulações pedagógicas; Algoritmos de IA para adaptação contínua; Ambientes virtuais imersivos (realidade aumentada/virtual); Segurança e criptografia avançada para proteger dados sensíveis.

Recompensa pelo Esforço Cognitivo: 

Sistema de gamificação e recompensas digitais; Moeda digital própria (EduCoin) vinculada a conquistas educacionais; Parceria com empresas para bolsas, estágios e certificações reconhecidas.

Metodologia de Implementação:

Fase 1 - Pesquisa e Desenvolvimento: Estudos em neurociência cognitiva e genética educacional; Desenvolvimento de algoritmos quânticos para análise pedagógica; Parcerias com universidades e centros de pesquisa.
Fase 2 - Prototipagem e Testes: Criação de PMV (Produto Mínimo Viável); Testes piloto com grupos diversificados de alunos; Ajuste de modelos preditivos e sistemas de feedback.
Fase 3 - Lançamento e Escalabilidade: Lançamento comercial em diferentes idiomas e contextos culturais; Expansão para novas áreas do conhecimento (Matemática, Ciências, Artes, Programação, etc.); Avaliação contínua e otimização dos algoritmos.

Parcerias Estratégicas: 

Universidades e institutos de pesquisa (ex.: MIT Media Lab, INPE, CNRS); Empresas de tecnologia (IBM Quantum, Google Quantum AI, NVIDIA); Governos e secretarias de educação;
ONGs especializadas em inclusão educacional; Startups de edtech e saúde mental.

Impactos Esperados: 

Educacional: Melhora significativa no rendimento e engajamento;
Social: Redução das desigualdades no acesso à educação de qualidade;
Tecnológico: Avanço na aplicação prática da computação quântica no cotidiano;
Ético: Promoção de uma educação responsável, transparente e respeitosa com os direitos humanos |
Econômico: Criação de empregos no setor de tecnologia educacional |

Desafios e Riscos: 

Tecnológico: Disponibilidade e custo da computação quântica;
Ético-Legal: Coleta e uso de dados sensíveis (genéticos, emocionais);
Pedagógico: Garantir que a personalização não substitua a interação humana essencial;
Cultural: Aceitação de uma educação tão diferente do modelo tradicional.

Modelo de Sustentabilidade: 

Modelo freemium: acesso básico gratuito e recursos premium pagos;
Assinaturas corporativas: empresas contratam o sistema para treinamento de funcionários;
Licenciamento acadêmico: universidades e escolas adquirem licenças institucionais;
Venda de dados agregados e anonimizados para pesquisas científicas.

Valores Fundamentais: 

Inclusão: acesso equitativo independentemente de origem ou condição:
Personalização com responsabilidade: respeito à identidade única de cada aluno;
Transparência: clareza sobre como os dados são coletados e usados:
Colaboração: incentivo à construção coletiva do conhecimento;
Humanismo tecnológico: a tecnologia serve ao ser humano, e não o contrário.

Conclusão: 

O projeto EduQ representa uma nova era na educação — onde a tecnologia de ponta é colocada a serviço do desenvolvimento humano pleno. Ao unir a precisão matemática, a riqueza da individualidade humana e o poder da computação quântica, propõe-se não apenas melhorar a educação, mas reinventá-la.

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À mesma questão ("Recompensar os indivíduos...") o ChaGPT, norte-americano, trouxe a seguinte resposta:

Você apresentou uma ideia potente, que mistura educação personalizada, tecnologia de ponta e incentivo ao aprendizado. Abaixo, proponho uma reformulação e ampliação da sua ideia em linguagem mais fluida e clara, mantendo a profundidade conceitual:

Recompensar indivíduos que se engajem ativamente em um processo estruturado de aquisição de novas competências — como o aprendizado da Matemática, a linguagem mais precisa e rigorosa desenvolvida pela humanidade — por meio de conteúdos pedagógicos altamente customizados.

Esses conteúdos seriam gerados com o auxílio de tecnologias avançadas, como a computação quântica, capazes de processar grandes volumes de dados para criar materiais didáticos sob medida. Cada módulo de aprendizado seria adaptado às particularidades de cada pessoa, levando em conta aspectos genéticos, perfis cognitivos, contextos sociais e familiares, bem como fatores emocionais e comportamentais.

A recompensa (que pode ser financeira, social ou em forma de acesso a oportunidades) funcionaria como um incentivo adicional, reconhecendo o esforço individual e promovendo uma cultura de aprimoramento contínuo. Esse modelo não apenas potencializaria a eficácia da aprendizagem, como também diminuiria desigualdades estruturais, oferecendo a cada ser humano uma trilha de conhecimento compatível com sua singularidade.

 

Pedi, então, que a plataforma norte-americana também me apresentasse um projeto para este fim. A resposta: 

Abaixo está uma estrutura de projeto detalhada com base na sua ideia. O foco é um sistema de aprendizagem matemática personalizada e recompensada, apoiado por computação quântica e inteligência artificial:

Projeto Mathema Quantum – Educação Personalizada com Computação Quântica e Recompensa por Mérito Cognitivo

Objetivo Geral: 

Desenvolver uma plataforma educacional de aprendizado personalizado em Matemática, com conteúdos adaptados individualmente por meio de tecnologias como a computação quântica e inteligência artificial, recompensando o engajamento e o progresso do aluno com benefícios tangíveis.

Objetivos Específicos: 

Utilizar a computação quântica para processar e analisar grandes volumes de dados genéticos, cognitivos, emocionais e sociais de cada indivíduo; Criar trilhas pedagógicas customizadas, com base nesses dados, otimizando o processo de ensino-aprendizagem; Implementar um sistema de recompensas baseado no progresso e engajamento do aluno, visando estimular a motivação intrínseca e extrínseca; Avaliar a eficácia da aprendizagem personalizada na redução de desigualdades educacionais; Criar um modelo escalável e replicável para outras áreas do conhecimento além da Matemática.

Justificativa: 

A aprendizagem matemática representa um dos maiores desafios educacionais contemporâneos, especialmente em contextos de desigualdade. Ao combinar os avanços da computação quântica e inteligência artificial com o conceito de pedagogia personalizada, é possível oferecer uma educação mais eficiente e equitativa. Recompensar o esforço de aprendizado cria um ambiente meritocrático e motivador, capaz de transformar vidas e comunidades.

Público-Alvo: 

Estudantes de ensino fundamental e médio em situação de vulnerabilidade; Jovens e adultos em processo de requalificação profissional; Instituições públicas e privadas de ensino interessadas em inovação educacional.

Metodologia: 

Fase 1 – Diagnóstico e Coleta de Dados:
Aplicação de testes cognitivos, emocionais e de perfil de aprendizagem; Integração com bancos de dados genéticos e psicossociais (voluntários e consentidos); Análise inicial com IA e refinamento com algoritmos quânticos para personalização. 

Fase 2 – Geração de Conteúdo Personalizado: Uso de IA e computação quântica para construir módulos de ensino personalizados; Adaptação contínua dos conteúdos conforme o desempenho e o progresso do aluno. 

Fase 3 – Plataforma Interativa: Desenvolvimento de uma interface digital gamificada e intuitiva; Implementação de monitoramento em tempo real do progresso. 

Fase 4 – Sistema de Recompensas: Definição de metas e marcos de progresso; Recompensas por desempenho, consistência e superação de dificuldades; Tipos de recompensa: bolsas de estudo, acesso a cursos extras, prêmios simbólicos ou financeiros. 

Fase 5 – Avaliação e Expansão: Avaliação qualitativa e quantitativa do impacto do projeto; Ajustes e escalabilidade para outras áreas (linguagens, ciências, programação, etc.).

Tecnologias Envolvidas: 

Computação Quântica (simulação e predição de perfis complexos); Inteligência Artificial (machine learning, NLP): Big Data & Analytics; Blockchain (para registro de progresso e recompensas); Plataforma Web e Mobile.

Parcerias Estratégicas Possíveis: 

Universidades e centros de pesquisa em educação, IA e computação quântica; Startups de edtech e healthtech; Instituições públicas (Ministérios da Educação e da Ciência); Empresas privadas com foco em ESG e responsabilidade social.

Resultados Esperados:
Melhoria significativa no desempenho matemático de alunos participantes; Redução das desigualdades de acesso ao conhecimento; Criação de um modelo comprovado de educação altamente personalizada; Engajamento de novos públicos em formação contínua.

Conclusão:
O projeto Mathema Quantum propõe uma revolução silenciosa, porém profunda, na forma como educamos e valorizamos o aprendizado. Ao colocar a tecnologia a serviço da personalização e ao reconhecer o esforço individual com recompensas, este modelo se posiciona como um novo paradigma para a educação do futuro.

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O que me surpreendeu nas duas respostas, e nos respectivos projetos de aplicação, foi o fato de que ambas as plataformas enxergam o potencial positivo e inovador da proposta, mas tiveram o cuidado de destacar a incontornável questão ética envolvida. Palmas para elas!

De fato, como tudo que envolve a educação, os cuidados com a ética são o aspecto mais delicado e de difícil equacionamento. Mas, delicado e difícil de ser aplicado por quê? Porque nossa espécie é inconfiável, dissimulada, trapaceira, gananciosa, egoísta — numa palavra: imatura. Esta é 'a triste sina de lutar contra moinhos de vento'.

Passos da verdadeira revolução

Uma das atividades que desenvolvi, na área de Comunicações, foi a de assessor de imprensa de grande empresa brasileira, atuando numa unidade de negócios em que trabalhavam cerca de mil engenheiros e técnicos, além do corpo burocrático e pessoal de apoio.

Essa experiência, que se estendeu por mais de vinte anos, foi uma valiosa oportunidade de praticar as ideias que desenvolvi ao longo de minha carreira como intermediário informacional entre os diversos estratos da sociedade, popularmente conhecida como jornalista. Sim, o jornalismo é essencialmente uma prestação de serviços.

No âmbito corporativo, essa intermediação se dá em relação a pelo menos três públicos: sociedade, fornecedores (de bens e serviços) e empregados. Nessa empresa, em particular, as relações com os empregados diretos e indiretos era o que mais importava. O sucesso da instituição dependia desse fator.

Qualidade, eficiência, produtividade estavam em grande medida garantidos pela excelência do corpo técnico, a prática da manutenção preventiva e a permanente modernização dos equipamentos operacionais. Era preciso, basicamente, comprometer a força de trabalho com as rígidas práticas de segurança. Essa era a prioridade da Comunicação.

Quando, no final da postagem anterior   Ideias (ingênuas) de Outono , me referi a recompensas como oportunidades de desenvolvimento profissional e o direito de participar do aprimoramento do processo de disseminação (falando do possível uso da computação quântica para produzir e divulgar conteúdos individualizados, destinados a superar a barreira da imaturidade vigente em nossa espécie), tinha em mente a experiência da comunicação corporativa.

Em resumo, o trabalho naquela empresa se desenvolveu a partir de minhas convicções filosóficas, digamos assim, de que todo ser humano é único em sua constituição física e mental, suas vivências, mas, em especial, na necessidade personalizada de reconhecimento, não necessariamente monetário.

As pessoas querem se sentir pertencentes e úteis aos grupos de que fazem parte não de forma padronizada, mas a partir de seus próprios méritos, ainda mais quando se trata de uma comunidade profissional, de onde elas obtêm os meios para o seu sustento ou o provimento das necessidades de sua família. 

Valorizar o protagonismo individualizado dessas pessoas é, portanto, essencial. Assim como é necessário humanizar as tarefas que elas realizam, vinculando-as diretamente aos resultados da empresa e ao seu próprio desenvolvimento como seres humanos.

De forma objetiva, minha ação consistia em entrevistá-las; apurar os detalhes dos trabalhos que faziam; conhecer e traduzir para o senso comum as particularidades técnicas; descobrir e valorizar o esforço inventivo adicionado às tarefas; apurar os eventuais ganhos de produtividade envolvidos; recolher suas possíveis sugestões de melhoria.

Isso era feito com todos os trabalhadores, do engenheiro mais graduado aos integrantes do corpo técnico e operários não qualificados. Todos, sem exceção, tinham uma boa história para contar. Ainda mais se o assunto em pauta não fosse técnico-operacional, mas uma conquista educacional, esportiva, cultural, familiar.

Para divulgar essas entrevistas, contávamos, primeiramente, com veículos impressos (boletins extras e um pequeno jornal mensal), mas, depois, também com os recursos de uma intranet (a internet institucional, voltada ao público interno). As redes sociais eram incipientes e algumas nem mesmo existiam, mas, ainda que utilizássemos esses novíssimos recursos tecnológicos, as bases da comunicação permaneceriam: humanizar o trabalho e valorizar aqueles que o produziam.

Realizado em conjunto com programas motivacionais desenvolvidos e aplicados por profissionais de teatro e música, o resultado foi extremamente positivo. O comprometimento com as normas de segurança se robusteceu; a iniciativa a procedimentos operacionais inovadores foi estimulada; a criatividade e invenção ganharam reconhecimento; e os grupos de trabalho passaram a adotar atitudes muito mais colaborativas.

Não se pode afirmar que esse quadro positivo se manteve estável e consolidado dali em diante, até porque os integrantes das equipes mudavam e os que vinham estiveram expostos a outros ambientes. Mas isso não indicava falha no projeto de Comunicação praticado naquela unidade, e sim a ausência de disseminação da iniciativa ao conjunto da corporação, bem como aos novos empregados que eram admitidos. Faltou expandir e consolidar a nova cultura.  

É do ponto de vista desse projeto corporativo que entendo a ideia de recompensar os indivíduos que venham a se dedicar a um (teórico) processo de aquisição de novas competências (aprendizado da Matemática, por exemplo, a mais precisa e rigorosa linguagem de que nossa espécie dispõe), a partir da utilização de conteúdos pedagógicos customizados (ou seja, gerados para cada pessoa, segundo suas particularidades genéticas, cognitivas, sociais, familiares, emocionais), produzidos com os fabulosos recursos da computação quântica.

A recompensa imediata seria  à semelhança daquela bem sucedida experiência como assessor de imprensa  a oportunidade de desenvolvimento profissional, traduzida na qualificação desses indivíduos para os novos tipos de tarefas a serem criadas no futuro, escapando da sina da irrelevância para o mundo do trabalho decorrente de uma formação inadequada ou insuficiente.

Associada a essa, a outra recompensa seria o direito de participar do aprimoramento do processo de disseminação das novos competências cognitivas, o que se traduziria no reconhecimento à contribuição de cada um, bem como no engajamento de todos para a construção de uma nova cultura humana. Uma cultura coletiva, inclusiva, terrena, e seguramente cósmica.

Ideias (ingênuas) de Outono

Vivendo no primeiro milênio da era cristã, em Bagdá, o matemático al-Khuwarizmi (nascido em 780 dC), o árabe de ascendência persa que desenvolveu o conceito de algoritmo (denominação que deriva de seu próprio nome), assumiu o seguinte compromisso intelectual: "Tornar claro o obscuro e simples o complexo".   

Passados mais de mil anos de sua morte (em 850 dC), pode-se dizer que al-Khuwarizmi  'pai da álgebra' (al-Jabr, que significa 'endireitar o que está quebrado') sem dúvida alcançou aquele objetivo.

Afinal, algoritmo, palavra que integra o vocabulário cotidiano de qualquer idioma moderno, possui hoje um status equivalente ao da alavanca de Arquimedes (287-212 aC), ideia que permitiu a multiplicação da força humana no deslocamento de objetos pesados.

Assim como o princípio da alavanca(*) mudou a história do desenvolvimento humano, nosso mundo digital é movido a partir de sequências finitas de passos lógicos destinados a resolver problemas ou realizar tarefas — o tal algoritmo.

Ou seja, somos governados por sequências matemáticas, que, operando como 'receita de bolo' imutável e previsível (embora adaptável a infinitos propósitos), capturam nosso comportamento exposto no ambiente virtual, que inevitavelmente navegamos; interpretam nossas atitudes à luz de modelos estatísticos; criam padrões customizados e induzem nossos pensamentos, opiniões e ações.

1175 anos desde a morte de al-Khuwarizmi, e vendo isso em que nosso mundo se transformou, que lições podemos tirar de seu esforço cognitivo (e de tantos outros sábios do passado, do presente e do futuro) para clarear o obscuro e simplificar o complexo, frente aos impactos e as consequências inevitáveis desse processo de contínuo e progressivo entendimento dos fenômenos físicos (alavanca) e mentais (algoritmo)?

A principal lição, me parece, é a de que estamos, e sempre estivemos, mergulhados num paradoxo existencial: não controlamos os desdobramentos do entendimento que passamos a dominar, mas, apesar de constatarmos seus efeitos tantas vezes danosos, somos compelidos a buscá-lo indefinidamente.

Trata-se de um impulso autodestrutivo, como nos ensina a fábula do escorpião e o sapo(**), pois é da natureza humana que assim seja. O antídoto a esse veneno componente do caráter da nossa espécie possui duas vertentes de difícil aplicação: realizar a disseminação do esclarecimento (o que alguns definem como "democratizar o conhecimento"); e mobilizar os próprios avanços conquistados pelo esclarecimento, para encontrar meios e modos de prevenir e neutralizar seus impactos negativos.

Nos tempos de al-Khuwarizmi, a transmissão de conhecimentos se dava preferencialmente pela via oral, o que fortalecia a capacidade de memorizar, o poder da abstração, o raciocínio lógico e, por consequência, a aprendizagem. O obstáculo à disseminação do saber decorria da hierarquização social e da discriminação de gênero sexual, além das limitações técnicas, digamos assim, para essa realização.

O mundo das ciências exatas sempre esteve reservado a poucos indivíduos, os privilegiados, aqueles que por fatores genéticos e circunstâncias sociais possuem (sempre possuíram) ferramentas cognitivas adequadas, saúde mental preservada, incentivo do entorno e meios de acesso às fontes desses conhecimentos.

Ou seja, a circunscrição desses conhecimentos a uns poucos eleitos (ainda que involuntariamente eleitos!) resultou e tem resultado no estabelecimento de uma casta de indivíduos afortunados, reservando-se à imensa maioria dos habitantes do planeta a condição de infelicitados desconhecedores e usuários insuficientes desses aprimoramentos cognitivos.

Desconhecedores não porque queiram, mas porque, primeiramente, as sucessivas invenções (meios) destinadas a disseminar o conhecimento humano (escrita, tipos móveis, telégrafo, radiodifusão, cinema, televisão, internet, telefonia móvel, dados em nuvem, inteligência artificial, computação quântica) têm promovido não a expansão, mas uma progressiva e acelerada limitação ou estreitamento da capacidade de compreensão humana.

É preciso ressaltar, ainda, que as invenções da escrita e, depois, dos tipos móveis, embora tenham sido eventos maravilhosos, inauguraram o processo de deterioração da memória. Fato semelhante ocorreu com a invenção do telégrafo, que aproximou as pessoas, mas despersonalizou os relacionamentos; com o rádio, o cinema e a televisão, que construíram mundos oníricos perfeitamente manipuláveis; com a internet, que promoveu a quimera da interação planetária; com a telefonia móvel, que expandiu a comunicabilidade mas agravou o isolamento; com o smartphone, essa arma divertida que vibra em nosso bolso, e despertou inclusive "os idiotas da aldeia".

E, para completar a linha do tempo da deterioração dos nossos sentidos, temos de falar também dos dados em nuvem, que prometem ubiquidade, mas disponibilizam nossa intimidade a quem oferecer o melhor preço; da inteligência artificial, que nos oferece respostas sem reflexão (por enquanto!); e da computação quântica, que põe a imaturidade humana ao alcance da velocidade da luz.

Tudo isso teve e tem o seu valor. Ainda assim, volto a perguntar: al-Khuwarizmi, aquele a quem se atribui a formulação da álgebra (originária da palavra al-Jabr, ou seja, endireitar o que está quebrado), do algoritmo (que deriva de seu próprio nome e está intimamente ligado ao conceito algébrico) e da equação (que vem de adala, isto é, ser igual), aquele sábio matemático alcançou sua nobre tarefa de "tornar claro o obscuro e simples o complexo"?

A resposta, que me parece positiva, é igualmente negativa. Sim, porque foi a partir dele, e de tantos predecessores e sucessores, que chegamos até aqui no avanço das ciências. Não (e isso independe dele), porque esses avanços, além de se manterem restritos (por quem os elaboram e a quem se destinam) foram produzidos sem a compreensão clara e simples de suas implicações existenciais.

Poderia ter sido diferente? Nos momentos mais realistas, penso que nunca tivemos, temos ou teríamos a chance de disseminar os estudos matemáticos, por exemplo, tornando-os universalmente claros e simples. Não há equanimidade na genética, nas circunstâncias sociais, na posse de recursos cognitivas, na saúde mental, no incentivo do entorno e no acesso às fontes desses conhecimentos. Os indivíduos não são iguais em nada  nem no tempo, nem no espaço. Este é um dos desesperos da existência humana.

Mas ainda nos resta a vertente da mobilização dos próprios avanços conquistados pelo esclarecimento, para encontrar meios e modos de prevenir e neutralizar seus impactos negativos. Penso nos fenomenais recursos vislumbrados pelo crescente domínio da física quântica, em especial na sua aplicação em processamento de dados.

Os cientistas  como disse nessa postagem: Uma ideia em movimento   acreditam que a computação quântica será particularmente útil para questões que envolvem muitas variáveis, como análise de risco financeiro, criptografia de dados, estudo de propriedades de materiais, novos tipos de medicamentos, novos materiais para células solares, baterias e outras tecnologias hoje apenas especuladas. 

A essa lista poderíamos ingenuamente acrescentar, com as devidas cautelas e salvaguardas, a disseminação do ensino das ciências exatas, a começar pela Matemática. Esse é o meio. O modo de fazê-lo seria utilizar a capacidade massiva de processamento da computação quântica, para produzir conteúdos didáticos práticos ao alcance do entendimento dos mais variados públicos (quiçá individualizados), associando a apropriação do entendimento (por parte desses públicos/indivíduos) a recompensas como oportunidades de desenvolvimento profissional e o direito de participar do aprimoramento do processo de disseminação.

(*) Estabelecido na equação Fp × BP = Fr × BR, em que Fp é a força que vai provocar o movimento; Fr é a força potente do centro de apoio; BP é a distância da força potente; e BR é a distância da força resistente do centro de apoio.

(**)  Um escorpião pede ajuda a um sapo para atravessar um rio, mas no meio do caminho, ele pica o sapo, causando a morte de ambos. A fábula nos ensina que a natureza humana, ou a de um animal, pode prevalecer mesmo quando isso causa a sua própria destruição.   

Habemus Papam! E daí?!

Li há pouco um artigo crítico às chamadas esquerdas brasileiras (as quais prefiro tratar de progressistas, quando muito), a propósito de senões que esses indivíduos já estariam fazendo ao papa recém eleito, o americano-peruano Leão XIV A esquerda que ainda espera o papa perfeito.

O que seria o papa perfeito? Pra mim, seria um que admitisse a falência (eu diria engodo, mais aí já seria demais) do cristianismo e demais religiões monoteístas (judaísmo e islamismo). E que se propusesse, a partir daí, engajar-se na verdadeira obra espiritual que interessa: a construção do ser humano consciente de sua presença cósmica e ciente de suas responsabilidades terrenas.

Claro, isso provocaria uma hecatombe na cúpula, no meio e na base de todas essas religiões, com potencial para produzir desesperos coletivos, caça às bruxas (a começar pelo próprio 'papa perfeito'), guerras santas e jihads intermináveis.

O mundo das crenças entraria em convulsão. Ocorreria um cataclismo urbi et orbe, mas, finalmente, nossa espécie teria a chance, talvez a última, de acertar o passo com a História grande, aquela que transcende esta pequena história medíocre e limitada que viemos erigindo ao longo dos últimos 10.000 anos, desde que passamos a domesticar plantas e animais no antigo Oriente.

Pois, então, pergunto:

Mas já não é exatamente isto (convulsão social, cataclismo ideológico, agitação social desordenada) o que se vê mundo afora? Já não estamos mergulhados no caos? Os dogmas das religiões monoteístas já não caíram por terra, desmoralizados pela ação cotidiana de todos os seus líderes?

Ou devemos aceitar passivamente, como fatos inexoráveis da vida, a miséria permanentemente ofendida pelo fausto de uma, os assassinatos em massa promovidos por outra, a violência vingativa de uma terceira?

Dirão alguns: 'Ah, mas não é bem assim, o mundo é complicado, não dá para harmonizar forças opostas num passe de mágica; temos de ter paciência e perseverar na busca de soluções de consenso'.

Volto a perguntar:

Mas não é exatamente isso o que tem sido feito ao longo de todos esses milênios, sob a 'administração' das religiões monoteístas — condescender e esperançar? Aceitar as iniquidades do mundo e suplicar para que elas (testemunhadas por nós, ou por nós sofridas) ao menos nos garantam um lugar ao lado do Criador, tenha o nome que Ele tiver?  

Não seria melhor, para os membros da nossa espécie, para o planeta e para todas as coisas que compõem e integram a Terra, dar um basta à relação de submissão espiritual a que estamos sujeitos? Não daríamos um salto civilizatório à frente, se assumíssemos nossa existência cósmica e pertencimento terreno?

Qual é a dificuldade disso? Até recentemente, uma proposição dessas talvez soasse estranha ou mesmo ridícula, pois nos acostumamos a olhar apenas para o nosso umbigo, mas, neste instante, estranho e ridículo é continuar ignorando a imagem corrompida refletida pelo nosso espelho.

Leia também: A quem pertence o futuro?

A quem pertence o futuro?

A ideia monoteísta de Deus, o Supremo Criador, deriva da palavra deiwos, da língua proto-indo-européia falada no III milênio aC nas proximidades do mar Negro. O conceito de deidade (a fonte do que é divino) é, portanto, contemporâneo ao Antigo Egito (3100 a 30 aC), onde prevaleceu a visão hermética e panteísta do Tudo.

Deiwos significava "brilhante, celeste", indicando que os seguidores do monoteísmo adotavam uma condição temerosa frente ao mistério da existência, contemplada a partir da Terra. Já o politeísmo hermético egípcio apontava para a ideia do Uno, entendendo que o Universo está dentro da mente do Tudo e o Tudo é a própria Mente (em outras palavras, o Universo está contido em Deus, mas Deus é maior do que o Universo)*.

A via do prosseguimento, qual seja, aquela que reivindica a dedicação da nossa espécie às tarefas destinadas à manutenção da vida, impôs no remoto passado sua forma de compreender o mundo, traduzida numa poderosa visão religiosa e cultural, com reflexos determinantes sobre a caminhada civilizatória empreendida desde então. 

Tal imposição poderia ter sido evitada? Penso que não. As necessidades imediatas da espécie foram (e sempre serão) incontornáveis. Nenhuma força espiritual teria sido capaz de mudar ou harmonizar aquele curso histórico, ainda que os sábios e líderes do III milênio aC possuíssem consciência das implicações de cada um dos dois sistemas espirituais para o futuro do planeta.

A predominância do monoteísmo resultou na evolução da psique da espécie? Também não. Embora tenha servido à lógica terrena e reducionista, com isso sustentando a revolução materialista que se seguiu, traduzida no avanço das ciências e no indomável desdobramento tecnológico, o monoteísmo produziu e aprofundou o despertencimento cósmico. Ou seja, retardou sua consolidação e disseminação.

Passados cinco milênios, quem hoje está espiritualmente equipado para enfrentar a encruzilhada civilizacional em que nos encontramos  aqueles que buscam o brilho celeste, ou os que se submetem ao mistério? Os que reivindicam o perdão Supremo, misericordioso, ou os que se harmonizam com o Universo, sabendo-se parte dele? Esta é a questão que nos interessa.

A caminhada civilizatória empreendida a partir e sob o império das religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo, islamismo) impôs aos indivíduos da espécie os desígnios de uma única entidade que, na verdade, se desdobrava em duas faces (a benevolente/redentora; a malévola/punitiva), mas sempre nos mantendo sob a lógica da submissão. Não poderíamos integrar (e ser) o Tudo; estava-nos destinado almejar um lugar no futuro Celestial.

A condição submissa, esperançosa, trazida pelo monoteísmo, foi (e tem sido) a mesma que justifica a renúncia à autodeterminação por parte da imensa maioria dos indivíduos da nossa espécie. Desobrigar-se de decidir, por receio ou conveniência, é o mesmo que entregar a Deus o nosso destino. É simples, é cômodo e, se não der certo, sempre restará rogar por misericórdia. Zero comprometimento.

Voltando à questão que nos interessa (Quem está mais equipado para enfrentar a encruzilhada civilizacional?), me parece que a resposta pende para o politeísmo professado desde os antigos egípcios, mesopotâmicos, gregos e romanos, passando pelos seguidores do hinduísmo, taoismo, xintoísmo, religiões africanas e indígenas.

Todas têm em comum não um Deus distante, uma luz a ser almejada e, quiçá, alcançada, mas o Tudo, a que pertencemos e que se manifesta entre nós, seres desta Terra integrada ao Cosmos, pela qual e para a qual somos inteira e completamente responsáveis.

*Refere-se ao Panenteísmo, termo criado por Karl Krause (1781-1832), sugerindo que o universo está em Deus, mas Deus não é apenas o universo, uma visão que combina a imanência (Deus presente em tudo) com a transcendência (Deus além do universo).