Falta pouco para a meia-noite deste 31 de Dezembro de 2024 no Sudeste do Brasil, América do Sul. Um Novo Ano cristão se aproxima.
Fogos logo irão estrondar aqui perto, na orla da praia; muitos cachorros quase enlouquecerão de dor nos tímpanos; crianças despertarão assustadas, e voltarão a dormir; pessoas muito velhas continuarão entregues aos seus sonos talvez sem sonhos; milhares de seres humanos se abraçarão, desejando-se toda a saúde e felicidade nos tempos desafiadores que virão.
Sei que nada disso significa muita coisa, mas, sim, alguma coisa significa. Significa que se recoloca o mistério da esperança, ainda que esta bata por ínfimos segundos no coração desses indivíduos, e apenas neste momento.
Ínfimos segundos que a cada um desses ciclos cristãos — e nos ciclos das demais religiões igualmente — mais se reduzem, desidratados pela racionalidade que a vida crua nos impõe, sempre mais cedo e mais rápido.
Sou solidário a esses corações e seus aceleradamente menores ínfimos segundos. Essa empatia, porém, não me permite dissimular o incômodo de saber que estamos perdendo tempo. É preciso que a esperança se transmute em ação. Pertencemos à Terra, mas temos um lugar no Cosmos. Nada mudará se isto não for compreendido, aceito, praticado!
Minha companheira, aqui ao meu lado, acaba de dizer que o espocar desses fogos se assemelha a bombas explodindo... É a primeira vez que ela faz essa associação; ainda mais ela, que tanto gosta desses momentos, e a cada ano se lamenta de não estar lá na praia, para ver as luzes multicoloridas se espalhando no céu, caindo em direção ao mar.
Acabou. Rasgo a folhinha antiga, o que por superstição só me permito fazer após a meia-noite de cada 31 de dezembro. Penso nas sortes e azares de cada um. Admito que azares podem também trazer fortunas, assim como sortes podem produzir infortúnios. E constato que os ínfimos segundos de esperança já se transmutam em ressaca.
Uma pena.
Faz silêncio.
O 2024 cristão ficou pra trás.