Falta assertividade

Pouca dificuldade têm as novas gerações — por exemplo — para identificar a hipocrisia e a incoerência. A crítica que vigora nesta sexta-feira, 19, por exemplo — dado o peso intelectual de quem a formula — diz respeito a equívocos político-administrativos atribuídos à Presidenta Dilma, dela cobrando mais acertos e melhores conselheiros.

Não há hipocrisia nem incoerência nessa crítica — registre-se logo —, mas um derivativo disso, que é uma insuficiência da análise, a qual acaba disseminada pelos leitores do respeitado jornalista-autor a outras mídias impressas e eletrônicas, produzindo uma onda opinativa que no extremo do processo pouco ou nada tem a ver com os termos propostos no texto original

O que falta aos líderes de opinião, neste instante histórico? Falta assertividade, coragem de dar às coisas e às pessoas seus nomes e sobrenomes, sem assombro (o que não faço aqui porque não sou um lider de opinião). O próprio jornalista-autor, em seu artigo, admite que se exime de declinar pessoas, reivindicando uma pretensa discrição, embora esteja, com isso, prestando um desserviço a seus leitores, em especial nestes tempos em que vivemos.

Não cabe mais declinar de nada, quando se está na mídia aberta. Atuar políticamente por subentendidos — e uma opinião publicada é uma ação política — é o que não se quer, ou precisa. Primeiro, porque não serve à construção daquilo a que seu autor se propõe; ao contrário, serve a interpretações várias, e a consequentes desvirtuamentos no processo de sua reprodução. Segundo, porque adia o necessário embate público que deveria se realizar nas novíssimas ágoras, fornecendo, na sua ausência (de embate), energia reativa àqueles que se sabem alvos das (talvez) pertinentes críticas.

Qual a razão de evitar embates? Houve um tempo em que os homens decidiam suas diferenças em duelos abertos, sob regras estritas e sujeitos às penas que se impunham aos perdedores. Os combates de hoje dispensam espadas e garruchas; são e devem ser de ideias sedimentadas na lógica e na realidade factual, como gosta de dizer o referido jornalista-autor.

Recusar-se a assim agir é eximir-se das nossas responsabilidades presentes; é apenas um exercício de retórica voltada ao espelho, não à vida. Precisamos, sim, de novos, muitos “J’Accuse”. Carecemos de duelos intelectuais abertos, galvanizadores, capazes de conquistar as atenções e catalisar os debates. Passou o tempo dos subentendidos, que só alimentam a entropia.

Texto produzido em 19/07/2013