Após o último texto aqui publicado — A hora é clara e incontornável —, um dileto amigo me respondeu: "Seu artigo rende horas de reflexão".
Quero dizer a esse amigo que sim, meu objetivo tem sido este mesmo: suscitar reflexão, mas não apenas isto. O momento planetário que atravessamos exige de cada um de nós — os que têm humildade para tal, e por isso são a vanguarda dos esperados novos tempos, como entendo que esse amigo possa ser — um sentido definitivo de urgência.
O momento da reflexão está ficando, ou ficou para trás. Não há mais o que pensar, ponderar, questionar, refletir. Estão dados, plenamente visíveis, todos os sinais de que a continuidade da espécie humana sobre as casca deste planeta encontra-se irremediavelmente comprometida.
Basta abrir nossas janelas — as objetivas, que deixam entrar a luz e o ar em nossas casas, e as metafóricas, aquelas que nos põem em contato com o mundo. Basta abrir essas janelas e constatar o quão extensa e profunda é a catástrofe terminal que estamos atravessando.
Catástrofe que se manifesta na insistência do poder da força entre as nações (seja aquele mais antigo, o hard power, seja este mais moderno, o soft power); nos conflitos egoísticos entre grupos sociais; e na intolerância cotidiana entre as pessoas, tudo isto convergindo para a negligência com aquilo que é o essencial e inadiável: o cuidado com nós mesmos e com o ambiente do qual fazemos parte.
Todos os horrores que estamos experimentando decorrem do catastrófico modelo civilizatório que viemos construindo há pelo menos 12.000 anos, desde o início da prática da agricultura, e que estão visíveis e vêm produzindo sofrimento mundo afora. A civilização erguida a partir do advento do Homo sapiens está esgotada.
Não, meu dileto amigo, não temos mais "horas de reflexão" ao nosso dispor. Tudo está se esfarelando à nossa frente, entre os nossos dedos. O tal sentido de urgência está posto, e isto não é uma conclamação retórica: Cada um, segundo sua capacidade e necessidade, que se ponha a campo a serviço do reinício da civilização. O momento é o mais sério de todos. Acabou a brincadeira.