A Terra está assim:
Bilhões de pessoas passam fome;
Doenças terríveis surgem e se espalham na mesma medida em que nossos alimentos são envenenados e nosso modo de vida se degrada;
Genocídios internacionais proliferam, alimentados pela indústria bélica e outros interesses econômicos;
Extermínios sociais são promovidos, em nome da segurança pública de privilegiados;
O ar torna-se irrespirável;
O calor e o frio aumentam de patamar e se prolongam;
Rios secam e a água vai se transformando em patrimônio privado;
O mar avança sobre os continentes, ameaçando a sobrevivência de todas as cidades costeiras, dentre as quais algumas megalópoles;
Eventos climáticos intensificam-se em violência;
Florestas inteiras queimam ou caem em benefício da ganância sem limites;
O extremismo político norteado pelo medo (todos os medos) se derrama pelas nações...
Não, senhores, nada do que vivemos hoje pode nos causar surpresa; nada é inesperado, espantoso, inusitado. Não temos direito à consternação.
Fomos nós, temos sido nós, a espécie humana, os permanentes construtores de nossas fraquezas e, por consequência, dos fracassos expostos à nossa volta e daqueles tantos e piores que nos esperam mais à frente.
Tenho dito e repetido, quase como um louco vagando pelas ruas — como fazia o Dinho nos anos 1970, na Praça da Independência, em Santos (São Paulo, Brasil), sussurrando nos ouvidos das pessoas a frase "Não pode, não pode não!" —, tenho dito, repito, que os problemas do ser humano nunca foram nacionais, municipais, sequer familiares.
Fomos nós, indivíduos, aqueles que construíram, e não paramos de construir, esse barco à deriva flutuando sobre a casca deste paradisíaco planeta.
Ignorantes presunçosos de nossa insignificância é o que somos. Subvertemos a sublimidade da existência humana em favor de um projeto civilizatório egoísta e excludente. Dividimos, quando o certo seria somar.
Foi nesse compasso que construímos e lapidamos a prática da arrogância, apropriando-nos — graças às capacidades que o acaso nos tem proporcionado (e que agora não culpemos o acaso!) — de poderes irresponsavelmente exercitados. Somos os inconsequentes, uma piada cósmica.