O rei está nu

Se meu intuito fosse o de apenas posar de intelectual de esquerda, de uma certa esquerda que se diz acima e além de rótulos, eu poderia afirmar que a China, coadjuvada pela sempre guerreira Rússia, está hoje com o queijo e a faca nas mãos, pronta para assumir os destinos da Terra em substituição ao visivelmente corrompido poder dos Estados Unidos da América.

Mas eu não me sinto bem na condição de poser, como dizem os franceses. Por isso, tenho dito e repetirei sempre: a China (mais do que a Rússia) está desperdiçando uma oportunidade histórica  talvez a última! de atuar em prol do que interessa neste momento para a Terra: criar condições políticas que possibilitem o prosseguimento de nossa espécie na casca deste paradisíaco planeta.

Não será com a implantação da "Iniciativa Cinturão e Rota", mais conhecida como "Nova Rota da Seda", que isto se dará. O poderio financista/nuclear do Ocidente, ainda que visivelmente corrompido e em processo de dissolução (ou talvez por isso!) não permitirá que o projeto chinês avance do modo internacionalista e abrangente como parecem desejar seus idealizadores.

Não que se trate de uma má ideia, admitindo-se que as intenções da China estejam (mesmo!) plenas das melhores intenções. A dificuldade incontornável é que se trata, desde a sua origem, de uma ideia excludente, pois se propõe a substituir uma relação de dominação por outra relação de dominação. Ou seja, é mais do mesmo, como abordei em artigo anterior.

Nossa até hoje fracassada espécie humana não precisa de mais uma experiência formulada por cima, ainda que proveniente de cabeças pensantes privilegiadas. Foi com ideias semelhantes  e igualmente semeadoras de esperanças em suas respectivas épocas  que chegamos ao desastre sócio-planetário em que nos encontramos.

O que precisamos, com urgência, é mudar radicalmente o modo de educar os indivíduos que habitam e habitarão a Terra. Não se alcançará a justiça social, a eliminação da fome, o controle das doenças e a superação das guerras, enquanto os integrantes de nossa espécie não se reconhecerem como seres pertencentes ao Cosmo, como sempre foram, são e serão.

É preciso parar de olhar para o nosso umbigo. Individualmente nós não somos nada. Também não somos nada coletivamente. Nem nosso planeta tem tanta importância assim diante da imensidão do Universo. E, no entanto, somos muito, porque integramos um Todo.

Essas questões não podem mais ficar restritas a debates entre iniciados, e muito menos a religiosos. A educação necessária deve proporcionar a cada indivíduo que compõe a nossa espécie a oportunidade de tomar ciência de sua verdadeira dimensão existencial. Já há técnicas e meios para fazermos isso.

Essa, sim, será uma verdadeira distribuição de poder capaz de mudar o rumo das catástrofes que se anunciam. Sei o quanto de utopia existe numa proposta dessas. Mas, o que fazer? Alguém precisa dizer que o rei está nu.